quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Ele é estranho porque é bom ou ele é bom porque é estranho?


Ele é estranho mas é muito bom de ouvir, suas performances são altamente excêntricas, suas roupas esquisitas e sua voz é completamente incomum. A descrição pode parecer usual quando o assunto é música pop, mas desta vez estamos falando de uma figura realmente rara, que chegou para abalar a mesmice e o conservadorismo do cenário pop mundial.
Trata-se de Antony Hegarty, 34 anos, vocalista do grupo Antony and The Johnsons, que está fazendo a cabeça dos antenados ao redor do mundo.
Pode-se dizer que Antony é uma mistura exótica de Peter Gabriel, Boy George, Nick Drake, Nina Simone e Otis Reading. Seu visual altamente andrógino chega a enganar os desavisados, mas o melhor de tudo é que ele faz uma música deliciosamente poética e melancólica.
Engana-se, porém, quem pensa que toda essa extravagância faz parte de um golpe de marketing para lançar mais um grupelho qualquer. Ela pode até contribuir para aumentar as vendas, mas o verdadeiro trunfo de Antony está mesmo em sua voz. Diferente, ela oscila entre graves sombrios, trêmulos profundos e agudos lânguidos, quase femininos, além de possuir uma carga dramática capaz de marejar olhos. Algo raríssimo na música pop de hoje em dia.
Hegarty mora há anos em Nova York, lugar escolhido por seus pais assim que deixaram a Inglaterra . Quando chegou à cidade, nos idos de 1990, não passava de um adolescente inglês tímido e deslocado. Logo se infiltrou no circuito gay e underground da metrópole americana e aventurou-se por cabarés e companhias independentes de teatro. Daí, para se juntar com amantes do blues, jazz, música alternativa e formar uma banda, foi um pulo.
O CD lançado em 2005 habita até hoje de 10 entre 10 Ipods de modernosos por aí chama-se I Am a Bird Now, e é o segundo da banda. O primeiro, auto-entitulado, foi lançado em 2000 e por incrível que pareça, passou despercebido. Aliás, o sucesso demorou a chegar. Em recente entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, o cantor diz que, durante muito tempo sofreu grande preconceito e sentiu-se marginalizado. “Acho que hoje em dia uma janela na área de cultura se abriu, as pessoas se sentem atraídas por músicas que sejam expressivas, emocional e fisicamente falando” diz. “Tenho a sensação de que as pessoas estão finalmente acordando. Estão finalmente começando a chacoalhar esse sentimento opressivo de cinismo e consumo desenfreado que têm nos mantido reféns ultimamente.” completa otimista.
O estrambótico de hoje foi descoberto pelos estranhos de outrora. Foi graças a Lou Reed (ex-Velvet Underground) e Laurie Anderson (musicista e performer) que o mundo teve a oportunidade de conhecer Antony and The Johnsons e sua música. Entre seus fãs estão ícones como David Bowie, Bette Middler e Boy George, Leonard Cohen, influência direta de Hegarty, que o convidou a participar do disco, cantando a belíssima ‘You Are My Sister’. Também contribuem no CD Rufus Wainwright, Devendra Banhardt e o “padrinho”, Lou Reed, que toca guitarra na comovente ‘Fistful of Love’.
Não fugindo muito ao padrão, a capa de I Am a Bird Now também faz referência a figuras incomuns e marcantes do ambiente pop. Ele traz a foto de Candy Darling, musa da lendária Factory, estúdio do artista-plástico e pai da pop art, Andy Warhol, “em seu leito de morte”, como está definido nos créditos. Os destaques do trabalho são as já citadas ‘You Are My Sister’ e ‘Fistful of Love’, ‘My Lady Story’, ‘For Today I Am a Boy’, ‘What Can I Do’, entre outras.
O álbum tem fortes influências de soul, jazz clássico e blues, tudo muito bem embrulhado numa levada pop atual, mas com um sofisticado e irresistível ar retrô. O CD levou o troféu de melhor álbum do ano no Mercury Prize de 2005, principal prêmio da indústria fonográfica britânica. Realmente, para sentir a música de Antony and The Johnsons em sua totalidade, só ouvindo mesmo. E nesse seu estilo bem peculiar Antony Hergaty lançou seu terceiro álbum ano passado, com uma certa extravagância mas sem perder a ternura jamais. Em The Crying Light sua genialidade está mais própria e madura, reduziu um pouco a dramaticidade que fez no seu álbum anterior I'm A Bird Now uma verdadeira obraprima. The Crying Light chega com sabor de sarau intimista ao redor de uma fogueira, com som baixinho e muita poesia. É um Antony mais recatado, mas ainda assim doce e emocionante.

Fonte: site G1

Um comentário:

  1. O Antony Hegarty é uma figura que me dá medo. :P

    Parabéns pelo blog Codinome Pensador. ;)

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