segunda-feira, 8 de junho de 2009

Namorar ou não namorar?

Quem não namora é alguém que tirou férias não remuneradas de si mesmo.
Namorar é a mais difícil das conquistas. Difícil porque namorar de verdade é muito raro.
Necessita de adivinhação, de pele, saliva, lágrima, nuvem, quindim, brisa ou filosofia. Paquera, gabiru, flerte, caso, transa, envolvimento, até paixão, é fácil.Mas namorar, mesmo, é muito difícil.
Para se namorar não precisa ser bonito ou bonita, basta apenas ser aquele ou aquela à quem se quer proteger e quando se chega ao lado dele ou dela a gente treme, sua frio e quase desmaia pedindo proteção.A proteção não precisa ser decidida ou bandoleira basta um olhar de compreensão ou mesmo de aflição.
Quem não namora é quem não tem amor, é quem não sabe o gosto de namorar.Se você tem três pretendentes, dois paqueras, um envolvimento e dois amantes; mesmo assim pode não ter nenhum namorado ou namoradada.
Quem não tem um namoro, é quem não sabe o gosto de chuva, cinema sessão das duas, medo do pai, sanduíche de padaria ou drible no trabalho.
Quem não namora, é quem transa sem carinho, quem se acaricia sem vontade de virar sorvete ou lagartixa e quem ama sem alegria.
Quem não namora, é quem faz pacto de amor apenas com a infelicidade.
Namorar é fazer pactos com a felicidade ainda que rápida, escondida, fugidia ou impossível de durar.
Quem não namora, é quem não sabe o valor de mãos dadas; de carinho escondido na hora em que passa o filme; de flor catada no muro e entregue de repente; de poesia de Fernando Pessoa, Vinícius de Moraes ou Chico Buarque lida bem devagar; de gargalhada quando fala junto ou descobre meia rasgada; de ânsia enorme de viajar junto para a Escócia ou mesmo de metrô, bonde, nuvem, cavalo alado, tapete mágico ou foguete interplanetário.
Quem não namora, é quem não gosta de dormir agarrado, de fazer cesta abraçado, fazer compra junto.
Quem não namora, é quem não gosta de falar do próprio amor, nem de ficar horas e horas olhando o mistério do outro dentro dos olhos dele, abobalhados de alegria pela lucidez do amor.
Quem não namora, é quem não redescobre a criança própria e a do amado ou amada e sai com o o seu amor para parques, fliperamas, beira - d'água, show do Milton Nascimento, bosques enluarados, ruas de sonhos ou musical da Metro.
Quem não namora, é quem não tem música secreta com ele, quem não dedica livros, quem não recorta artigos; quem gosta sem curtir; quem curte sem aprofundar.
Quem não namorar, é quem nunca sentiu o gosto de ser lembrado de repente no fim de semana, na madrugada, ou meio-dia do dia de sol em plena praia cheia de rivais.
Quem não namora, é quem ama sem se dedicar; quem namora sem brincar; quem vive cheio de obrigações; quem faz sexo sem esperar o outro ir junto com ele.
Quem não namora, é quem confunde solidão com ficar sozinho e em paz.
Quem não namora, é quem não fala sozinho, não ri de si mesmo e quem tem medo de ser afetivo.
Se você não namora é porque não descobriu que o amor é alegre e você vive pesando duzentos quilos de grilos e medos, ponha a saia mais leve, aquela de chita e passeie de mãos dadas com o ar.
Enfeite-se com margaridas e ternuras e escove a alma com leves fricções de esperança.
De alma escovada e coração estouvado, saia do quintal de si mesmo e descubra o próprio jardim.
Acorde com gosto de caqui e sorria lírios para quem passe debaixo de sua janela.
Ponha intenções de quermesse em seus olhos e beba licor de contos de fada.
Ande como se o chão estivesse repleto de sons de flauta e do céu descesse uma névoa de borboletas, cada qual trazendo uma pérola falante a dizer frases sutis e palavras de galanteria.
Se você não namora é porque ainda não enlouqueceu aquele pouquinho necessário a fazer a vida parar e de repente parecer que faz sentido.

(Artur da Távola)

Um comentário:

  1. Achei lindo este poema.........
    E concordo com tudo que nele foi dito.....
    Perfeito..........Mariana Lazarine... Salvador/BA

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