Da nova safra de filmes de comédia do Brasil, o filme “Mulher invisível” mesmo com roteiro frágil e previsível, o filme consegue se manter graças ao carisma e talento de seu protagonista (Selton Melo), além da boa dinâmica dele com o restante do elenco.
“Mulher Invisível” é a história do controlador de tráfego Pedro, que cria na imaginação uma mulher perfeita, logo após ser chutado pela esposa. A tal mulher perfeita (Luana Piovani) realiza todos os desejos do rapaz, mas a situação começa a mudar quando uma outra mulher entra na parada.
O filme é mais um exemplar produzido com a marca “Globo Filmes”, o que traz ótimos pontos (como financeiro), mas também carrega consigo um peso enorme, principalmente quando há em cena um ator no auge de sua carreira, como é o caso de Selton Melo, mas no geral é um pacotão básico, um modelo estruturado que serve para vários filmes. Deixando um pouco isso de lado, o diretor Cláudio Torres acerta quando prepara o filme todo para Selton brilhar, interferindo pouco em cena e até aparando algumas arestas aqui ou ali.
A narrativa é construída de maneira bastante linear. Apesar de tentar criar um certo clima de suspense, todo mundo já sabe mais ou menos o que vai acontecer, até porque o trailer entrega bastante coisa. O que não entrega, no entanto, é a história paralela do outro lado do “triângulo amoroso”, vivida por Maria Manoela, um papel que exige um pouco mais e que a atriz interpreta de maneira correta. O grande trunfo do filme, no entanto, são as "gags" de Selton e seu elenco de apoio. Assim como Jim Carrey e outros grandes comediantes, o ator brasileiro tem o terreno todo para si e consegue, com isso, estabelecer uma boa dobradinha com Vladmir Brichta, que vive Carlos, seu melhor amigo. O roteiro, sim, é o fundo do poço do longa. Linear demais, previsível e frágil na maioria das cenas, ele leva a história a pontos bem chatos. No entanto, creio que o tipo de história cairia perfeitamente num daqueles seriados noturnos de sexta-feira da Globo, com muita comédia e temática mais adulta.
Amparado numa história real e com grande implicação social e política, o filme “Jean Charles” faz desse pano de fundo apenas uma muleta para levar à frente sua verdadeira história: a dificuldade de imigrantes brasileiros em Londres. E é apenas com as belas atuações do elenco que o filme se sustenta, apresentando uma narrativa e roteiro bem criativos.
“Jean Charles” conta a história do protagonista que dá nome ao longa (Selton Melo) e de sua prima Vivian (Vanessa Giácomo), que vivem na Inglaterra uma rotina de duras provações e subempregos mal remunerados.
A história de milhares de brasileiros que vivem fora do país já é bastante conhecida do público, que vê constantemente nos telejornais casos parecidos, com pessoas subempregadas e retornando ao país do jeito que foi: com a mão na frente e a outra atrás. Essa imigração, na sua maioria ilegal, é o mote do filme, que mostra não só os dois principais personagens, Jean e Vivian, mas também outra infinidade de brasileiros que vivem em Londres.
“Jean Charles” é apenas o registro do cotidiano de alguns brasileiros que vêem num país estrangeiro oportunidades que não encontram no Brasil. Fato corriqueiro e antigo, é verdade, mas que de certa forma não foi tratado ainda no cinema.
A dinâmica desses atores, aliás, é o grande trunfo do filme. Selton Melo encarna um Jean alegre e bem humorado, mas sem nunca deixar de ser prestativo e tentar ajudar a todos. Essa característica é que pontua toda trajetória de Jean pelo filme, que consegue resolver os problemas dos outros, mas os seus ficam sempre em segundo plano. Vivian, sua prima que vai à Inglaterra para juntar dinheiro para ajudar a mãe no interior de Minas, apresenta-se frágil, mas que percorre uma trajetória de crescimento pessoal considerável. Luis Miranda faz seu Alex despojado e engraçado em praticamente todas as falas, usando bem o corpo (quase numa teatralização de sua atuação) para uma quebra da dramaticidade do filme.
Em “ Jean Charles” com um papel difícil, cheio de sutilezas e riscos, Selton Mello mostrou de forma categórica que seu talento é muito maior do se poderia imaginar. A cena do telefonema para a mãe, por exemplo. Só um ator de maturidade plena conseguiria imprimir tanta vida e verdade a um personagem comum, cujo nasceu tão somente da tragédia estúpida que o matou.
Palmas também, nesse sentido, para o diretor Henrique Goldman, que optou por realizar um filme sóbrio, sem qualquer apelação, quando as tentações e as pressões para transformar Jean Charles num mártir não devem ter sido poucas. Goldman se concentra na morte incomum de Jean Charles, está mais preocupado como o cotidiano de um brasileiro comum numa cidade estrangeira. Simplesmente registra, com humanidade, uma história interrompida no meio pela violência, como tantas outras, infelizmente.
O diretor Júlio Bressane baseou-se em dois contos do genial Machado de Assis (A causa secreta e Um esqueleto), escritor de onde saiu a matéria prima para o seu Brás Cubas de 1985, um de seus filmes mais inesquecíveis.
Bressane, que para muitos considerado o Godard brasileiro, em “A Erva do Rato” nos mostra uma das melhores interpretações da carreira de Selton Melo e também uma atuação hipnótica de Alessandra Negrini. Temos, assim, dois atores globais completamente deslocados do que costumam fazer na televisão, o que já garante algumas interrogações iniciais no público que não acompanha a carreira do diretor. Mas isso é só o começo.
Na seqüência de abertura, vemos o mar banhado pelo sol e numa só tomada em 180º somos jogados pra dentro de um decadente cemitério. Lá estão Selton Mello num canto e Alessandra Negrini de outro. Apenas identificados como ele e ela. Isso é só o cartão de visita do que teremos pela frente. Imensidão, mistério, morte e muita ironia machadiana. Dessa externa somos jogados para dentro de uma claustrofóbica casa, onde praticamente todo o resto do filme se desenvolve. Tudo se concentra na estranha relação entre o casal central. Uma relação que começa na aproximação e, aos poucos, se mostra como uma espécie de servidão e entrega. Ele fala sobre mitologias, natureza e Rio de Janeiro, enquanto ela, obediente, anota todos os seus pensamentos. A entrega da mulher como objeto de posse do homem, quase um senhor feudal. Aos poucos, a relação de obediência e aprendizado se transforma em servidão erótica. Ele passa a fotografá-la, primeiro em comportados vestidos. Aos poucos as roupas são descartadas e a beleza dela passa a disputar atenção com sua própria fisiologia. Até que a relação de fetiche chega ao limite com a chegada de um rato. Um roedor safado que se alimenta das fotografias eróticas, surge a tríade um homem, uma mulher e um rato. As interpretações dos dois únicos atores ajudam a imprimir a força, seja pela imposição vocal levemente debochada de Selton Mello e a indiferente nudez (matadora, como sempre) de Alessandra Negrini. Ah, sim, e uma ratazana que bem poderia ser Hamlet em outra encarnação.
O que se passa no decorrer dos planos estáticos, com a fotografia do Walter Carvalho ameaçando transbordar o tempo todo, é simples: homem conhece mulher no cemitério e desenvolve com ela uma relação curiosa. A curiosidade não é só do ponto de vista do espectador em direção ao filme, mas dele em direção a ela, aos mistérios do corpo feminino, à revelação do órgão sexual por uma câmera fotográfica. O estranhamento de quem está diante da tela encontra um eco no estranhamento do personagem de Mello diante do corpo imóvel e desnudo, que parece esconder um mundo para o qual ele não tem acesso que não seja pela mediação de uma lente.
Nos minutos finais, a bizarrice domina (mais do que isso não posso dizer), e o filme cresce com isso. O último plano, de uma complexidade formal absurda para dar conta de uma ação simples, que pode ser percebida pelo barulho da máquina fotográfica, revela que Bressane ficou realmente deslumbrado com a técnica de Walter Carvalho.
Bressane, que para muitos considerado o Godard brasileiro, em “A Erva do Rato” nos mostra uma das melhores interpretações da carreira de Selton Melo e também uma atuação hipnótica de Alessandra Negrini. Temos, assim, dois atores globais completamente deslocados do que costumam fazer na televisão, o que já garante algumas interrogações iniciais no público que não acompanha a carreira do diretor. Mas isso é só o começo.
Na seqüência de abertura, vemos o mar banhado pelo sol e numa só tomada em 180º somos jogados pra dentro de um decadente cemitério. Lá estão Selton Mello num canto e Alessandra Negrini de outro. Apenas identificados como ele e ela. Isso é só o cartão de visita do que teremos pela frente. Imensidão, mistério, morte e muita ironia machadiana. Dessa externa somos jogados para dentro de uma claustrofóbica casa, onde praticamente todo o resto do filme se desenvolve. Tudo se concentra na estranha relação entre o casal central. Uma relação que começa na aproximação e, aos poucos, se mostra como uma espécie de servidão e entrega. Ele fala sobre mitologias, natureza e Rio de Janeiro, enquanto ela, obediente, anota todos os seus pensamentos. A entrega da mulher como objeto de posse do homem, quase um senhor feudal. Aos poucos, a relação de obediência e aprendizado se transforma em servidão erótica. Ele passa a fotografá-la, primeiro em comportados vestidos. Aos poucos as roupas são descartadas e a beleza dela passa a disputar atenção com sua própria fisiologia. Até que a relação de fetiche chega ao limite com a chegada de um rato. Um roedor safado que se alimenta das fotografias eróticas, surge a tríade um homem, uma mulher e um rato. As interpretações dos dois únicos atores ajudam a imprimir a força, seja pela imposição vocal levemente debochada de Selton Mello e a indiferente nudez (matadora, como sempre) de Alessandra Negrini. Ah, sim, e uma ratazana que bem poderia ser Hamlet em outra encarnação.
O que se passa no decorrer dos planos estáticos, com a fotografia do Walter Carvalho ameaçando transbordar o tempo todo, é simples: homem conhece mulher no cemitério e desenvolve com ela uma relação curiosa. A curiosidade não é só do ponto de vista do espectador em direção ao filme, mas dele em direção a ela, aos mistérios do corpo feminino, à revelação do órgão sexual por uma câmera fotográfica. O estranhamento de quem está diante da tela encontra um eco no estranhamento do personagem de Mello diante do corpo imóvel e desnudo, que parece esconder um mundo para o qual ele não tem acesso que não seja pela mediação de uma lente.
Nos minutos finais, a bizarrice domina (mais do que isso não posso dizer), e o filme cresce com isso. O último plano, de uma complexidade formal absurda para dar conta de uma ação simples, que pode ser percebida pelo barulho da máquina fotográfica, revela que Bressane ficou realmente deslumbrado com a técnica de Walter Carvalho.
“A Erva do Rato” tem muitos méritos, um deles certamente é o desconforto que provoca no espectador, que se sente impelido a uma revisão, desde que a preguiça ou a intolerância com o diferente não o tenha levado à desistência num primeiro momento. Mas esse encanto preciosista, a curto ou médio prazo, pode significar um beco sem saída para seu cinema. Não duvido que possa dar marcha a ré. Mas seria, de qualquer forma, uma involução.
Fonte: Cine Pop
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