sexta-feira, 16 de abril de 2010
"Senhor, tende piedade de deles!”
Todo o Brasil ficou estarrecido vendo pela tevê nas últimas semanas a catástrofe ocorrida pelas chuvas incessantes no Rio de Janeiro. E como se não bastasse esse episódio se espalhou também por Santa Catarina, Bahia e São Paulo, que compartilharam dessa mesma tragédia. Eu pensei em todo esse drama brasileiro e foi quase inevitável na minha conversa diária com Deus, não pedir piedade para essas pessoas todas que ficaram sem casa, sem roupa, sem comida, sem os familiares e sem nada, tendo que recomeçar do zero.
Por acaso li uma matéria em uma revista há alguns meses atrás, onde uma teóloga norte-americana abordava com muita propriedade assuntos referentes às tragédias naturais diretamente ligadas as tragédias sociais, ela se referiu ao um tal “ Espírito Santo da Terra”, que próximo ao fim dos tempos, esse espírito aumenta as tragédias naturais e o desequilíbrio social. Esses sinais estariam mais frequentes e intensos nos útimos anos. Isso tudo está citado em (Lucas 21:28). “O refreador Espírito de Deus está agora mesmo sendo retirado do mundo. Furacões, tormentas, tempestades, incêndios, inundações, desastres em terra e mar, seguem-se um ao outro em rápida seqüência. Os homens não discernem as sentinelas angélicais que retêm os quatro ventos para que não soprem sem que os filhos de Deus estejam selados, mas quando Deus mandar que seus anjos soltem os ventos, haverá uma tal cena de luta que pena nenhuma pessoa na Terra sobreviverá para descrever”.
Vi também o Arnaldo Jabor que disse brilhantemente em sua crítica semanal no Jornal da Globo: “ Diante das tragédias da natureza, só nos resta tremer, calar, sentir-nos impotentes diante dos atos de Deus. Mas o que aconteceu no Rio, nos obrigar a pensar que quando as águas rolam, percebe-se com mais clareza a outra tragédia, a tragédia social. O Rio é lindo, é maravilhoso, é a cidade mavilhosa povoada por pessoas pobres e desamparadas mas não na hora da chuva, desamparados no sol, na normalidade das coisas do dia-a-dia, que vivem num cotidiano desgraçado, vivem em favelas intocadas pelo poder público há centenas de anos. No outro lado dessa calamindade, vivem os privilegiados, o lado rico da sociedade que veem essa tragédia com horror, mas pela televisão e do alto de seus prédios super chiques e protegidos. Essas tragédias só nos revelam as décadas de escravismo disfaçados, as décadas de encostas precárias e sempre prestes a desabar. Dar pra ver a ignorância das vítimas que se recusam a sair do perigo, dar pra ver o sofrimento mudo de seres invisíveis que não notamos no dia-a-dia, dar pra ver o sofrimento que só grita e chora quando filhos e pais morrem soterrados na lama. Estamos vivendo os dias mais terríveis e que os governantes ajudaram a piorar a cidade e o estado carioca. A chuva nos mostra a realidade do Rio com mais nitidez do que quando há o sol, o céu, o sul e os barquinhos que navegam só no mar e não nas vielas e ruas dessa cidade pobre.”
As favelas cariocas, como todos nós sabemos e aprendemos na escola, nasceram na guerra de Canudos, com a desmobilização das forças que combateram Antônio Conselheiro, no fim do século 19 e vieram para o Rio, acamparam-se em um de seus morros, onde seus descendentes continuaram a morrer, como no sertão baiano: a tiros, de fome, e por fim, nos desabamentos. Como o Rio não fosse exceção na ordem social de domínio, como quase todas as cidades brasileiras, reproduziu-se o mesmo modelo de ocupação urbana e de exploração de trabalho, porque as autoridades em suas mais diversas esferas, só enxergam nos homens e mulheres dos bairros dos subúrbios e das favelas apenas uma fonte de mão-de-obra barata a ser explorada diariamente e um celeiro de votos para a confirmação da ordem política. A letra da lei é bonita e mas só vale no papel, como todos nós já sabemos. É fácil, na tragédia, transferir a responsabilidade para a população, incriminando como sempre fizeram ao longo de nossa história. Porém, é negado aos pobres e aos miseráveis o direito de habitar com o mínimo de dignidade, apesar disso estar escrito em nossa constituição. Enquanto nossos homens e mulheres menos favorecidas não forem amparados com a mínima dignidade que merecem e nossas crianças crescerem sem esperança no futuro, nada está em sua ordem natural, e com chuva ou qualquer outra forma de tragédia sempre cairá sobre os mais pobres. E o que é mais revoltante pra mim, é ver na tevê a cara de pau e ao mesmo tempo de choro de nossos governantes diante das famílias que jamais terão como se proteger de um amanhã sem a menor perspectiva de vida.
(Codinome Pensador)
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