terça-feira, 30 de novembro de 2010

Tô ouvindo: CD Efêmera da Tulipa Ruiz


Se você ainda não ouviu falar na cantora e compositora Tulipa Ruiz é bem provável que mais dia, menos dia, isso aconteça. Afinal de contas, a paulista vem sendo apontada por muitos como uma das novas promessas da atual cena musical brasileira e acaba de lançar seu álbum de estréia "Efêmera". Apesar de ser seu primeiro trabalho, a artista já é figura conhecida no meio musical e se favorece de um fator bastante plausível nos dias atuais: em meio a um desgaste natural da velha MPB, ela faz parte de uma safra promissora da música brasileira. Ambientado em uma esfera alegre e colorida, o disco traz muita originalidade, tanto na parte sonora, quanto nas composições.
Seguindo o caminho inverso de muitos artistas, Tulipa começou a fazer música sem pretensão de se profissionalizar. No entanto, para os que pensam que seu talento e dom para a música são obras do acaso, ledo engano! Pois sua bagagem vem de berço. Ela é filha de Luiz Chagas (ex-guitarrista da histórica banda Isca de Polícia, de Itamar Assumpção) e irmã do violonista e guitarrista Gustavo Ruiz (Mariana Aydar, Junio Barreto, Trash Pour 4 e Dona Zica), que também assina a produção de "Efêmera". Não bastasse cantar e compor bem, ela é ainda desenhista e responsável pela capa de seu debut.
Nascida em Santos (litoral de São Paulo), criada no interior de Minas e desenvolvida na capital paulista, Tulipa filtra influências de todos esses ambientes. Daí se explica o fato de as letras do disco, que compila 11 belas canções, sendo dez autorais e quatro parcerias, abordarem tantos elementos da natureza. Como, por exemplo, em "A Ordem das Árvores" (faixa 05), cenas urbanas paulistanas, retratadas em "Às Vezes" (faixa 09), personagens inventados, abordado em "Pedrinho" (faixa 04) e situações reais pessoais, apresentados em "Pontual" (faixa 02) e "Só Sei Dançar Com Você" (faixa 11).


Dona de uma voz doce e, ao mesmo tempo, marcante, Tulipa reverencia tais atributos de modo exemplar neste seu primeiro trabalho, que vem associado a excelentes arranjos. Além do pai e do irmão, a cantora ainda contou com a participação no disco dos músicos Dudu Tsuda (teclado), Márcio Arantes (baixo e co-produtor do disco) e Duani Martins (bateria). Aliás, banda que vem a acompanhando também nos shows de divulgação do álbum. Com várias participação especiais, entre elas, de Kassin, trio Negresko Sis (formado pelas cantoras Céu, Anelis Assumpção e Thalma de Freitas), Stéphane San Juan, Zé Pi, Iara Rennó, o álbum consegue reunir artistas e músicos das mais variadas influências sem "perder o pé". Muito pelo contrário, algo que nos surpreende é a coesão aparente existente entre todos.
O que nos leva à conclusão de que salvo o talento promissor da idealizadora do projeto, "Efêmera" é mais um cruzamento de ótimas idéias e escolas musicais. Melodista e letrista espirituosa, Tulipa consegue desenhar canções cheias de poesia, bom humor e feminilidade. Repleto de músicas que trazem algo de retrô e uma leveza pop cativante, o álbum é o resultado da miscelânea e união de diversas influências, cuja sonoridade remete ao tropicalismo, passando pelo soft rock dos Anos 60 à gloriosa Gal Costa dos 70. Porém, sem soar como algo antigo, mas sim, contemporâneo, com cheiro de novo, é importante ressaltar!
O mais bacana deste projeto é que o álbum, além de trazer criações de Tulipa, ainda abre espaço para outros artistas mostrarem a sua criatividade, como é o caso dos diversos desenhos de tulipas espalhados no encarte, assinados não apenas por sua titular, mas também por músicos e amigos. Entre eles, Edith Derdik, Karina Buhr, Rômulo Fróes, Na Ozzetti, Alexandre Órion, Rafael Castro, Marko Mello, Érika Machado, Gustavo Aimar, Luciana Cottini e Victor Zalma.
Enfim, em um País de grandes cantoras, Tulipa revela influências, mas não se perde em imitações enfadonhas. Tanto que não é à toa, que a paulista vem despontando na cena musical brasileira, diante da enorme gama de artistas que estão na batalha por um espaço e por apresentar o seu trabalho. E talvez o diferencial da cantora esta no fato de apesar de ser também compositora, por outro lado, rejeita o ecletismo das intérpretes moderninhas, ao investir em diversos caminhos sonoros. Ela, que tem em Milton Nascimento como principal parâmetro no desenvolvimento de seu trabalho, consegue reunir com maestria a riqueza, seja ela musical ou imagética, em um mesmo produto. O que apenas denota o seu talento promissor para a arte, de forma geral.

Lista de músicas:

1 - Efêmera
2 - Pontual
3 - Do amor
4 - Pedrinho
5 - A ordem das árvores
6 - Sushi
7 - Brocal dourado
8 - Aqui
9 - Ás vezes
10 - Da menina
11 - Só sei dançar com você

Fonte: Radar cultural

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Uma fotografia sem pudores






Robert Mapplethorpe nasceu em 1946, em Floral Park, Queens, Nova York. Definido hoje por muitos críticos como um dos maiores fotógrafos de sua época, ele tinha um estilo polêmico e rigoroso em todos os aspectos da sua obra. Explorou como ninguém o nú artístico sob uma ótica clássica e composição purista, still life de flores e portrait de personalidades do meio artístico e cultural. Ficou mais conhecido por suas fotografias de nu e sua maneira controversa de abordar o erotismo. Algo que predomina em quase todos os seus trabalhos. Suas fotografias tinham composições muito sofisticadas, suas naturezas mortas eram refinadas e suas imagens da sexualidade explícita do universo sadomasoquista, despertaram tanto a idolatria quanto a fúria da sociedade norte-americana. Enfim... Sua arte teve vários caminhos, mas foi na fotografia que este homem dúbio e incansável celebrizou-se. Uma vez no auge do sucesso, ele disse: " Eu venho da América suburbana. Um bom lugar para quem quer aprender de verdade com a vida e para quem não tem medo de ganhar o mundo." Essa frase resumiria um pouco das idéias inovadoras e de sua personalidade inquieta.
Em 1963, Mapplethorpe matriculou-se no Pratt Institute of Brooklyn, onde estudou desenho, pintura e escultura.Logo foi influenciado por artistas como Joseph Cornell e Marcel Duchamp, ele também experimentou com diferentes materiais em colagens mixed-media, incluindo imagens cortadas de livros e revistas. Ele adquiriu uma câmera Polaroid em 1970 e começou a produzir suas próprias fotografias para incorporar as colagens, dizendo que se sentia "que era mais honesto”. Nesse mesmo ano, ele e sua namorada Patti Smith, a quem tinha conhecido três anos antes e que era bissexual como ele, se mudaram para o Chelsea Hotel.
Patti Smith era naquela década, era uma poeta, uma artista, uma estrela do rock e até um pouco de um xamã. Considerada a madrinha do punk, por saber integrar a sua poesia e o seu estilo de performance com três acordes do rock . Foi quando sua amizade com Robert Mapplethorpe gerou um romance dos mais selvagens e aqueles dois jovens sem dinheiro ou conexões mais tarde viriam a atingir tal o extremo sucesso, Smith com sua música e Mapplethorpe com sua fotografia. Os dois lutaram para ter comida e abrigo, mantendo um olhar para tudo que vinham e viviam com a finalidade de fazer arte. Smith deixou Nova York para Detroit em 1979 para viver com o homem que viria a se casar, o falecido ex-guitarrista do MC5, Fred "Sonic" Smith, assim como a carreira de Mapplethorpe como um dos fotógrafos de arte mais chocante e potente estava atingindo seu apogeu (como seu preto -e-branco dos prostitutos homossexuais, S & M atos, flores e de crianças estavam a caminho do acervo do museu).
Mapplethorpe rapidamente encontrou satisfação tirando fotos Polaroid, por direito próprio e Polaroids na verdade, poucos realmente aparecer em suas obras mixed-media. Em 1973, a Galeria de Luz em Nova York, montou sua primeira galeria de exposições a solo, "Polaróides". Dois anos depois, ele adquiriu uma câmera médio formato Hasselblad e começou a fotografar seu círculo de amigos e conhecidos artistas, músicos, socialites, estrelas de cinema pornográfico, e os membros do S & M subterrânea. Ele também trabalhou em projetos comerciais, criação de capa do álbum de Patti Smith e Television e uma série de retratos e imagens do partido para Interview Magazine.
No final dos anos 70, Mapplethorpe cresceu cada vez mais interessados em documentar o New York S & M cena. As fotografias resultantes são chocantes pelo seu conteúdo e notável por seu domínio técnico e formal. Ele disse na época: " Eu estou olhando para o inesperado. Estou à procura de coisas que eu nunca tinha visto antes ... Eu estava em posição de tomar as fotos. Senti a obrigação de fazê-las. Enquanto isso em 1977, sua carreira continuava a crescer, foi quando a Robert Miller Gallery em Nova Iorque tornou-se seu distribuidor exclusivo.
Ao longo dos próximos vários anos, trabalharam em uma série de retratos e estudos de figura, um filme, e o livro “Senhora, Lisa Lyon”. Ao longo da década de 80, Mapplethorpe produziu um bando de imagens que ao mesmo tempo desafio e aderir a padrões estéticos clássicos: composições estilizadas de nus masculinos e femininos, flores delicadas naturezas-mortas e retratos de estúdio de artistas e celebridades, para citar alguns de seus gêneros preferidos. Ele apresentou e refinou as técnicas e formatos diferentes, incluindo a cor de 20 "x 24" Polaroids, fotogravuras, platina, impressos em papel e roupa, Cibachrome e transferência de corante de cor impressa. Em 1986, ele projetou cenários para Childs dance performance Lucinda, Retratos de Reflexão, criou uma série Fotogravura de Rimbaud Uma estação Arthur no Inferno, e foi encomendada pelo curador Richard Marshall para tirar retratos de York novos artistas para a série e livros, 50 Artistas de Nova York.
Apesar de sua doença, ele acelerou os seus esforços criativos, alargou o âmbito da sua investigação fotográfica, e aceito encomendas cada vez mais desafiador. O Museu Whitney de Arte Americana montou sua primeira grande retrospectiva do museu americano, em 1988, um ano antes de sua morte em 1989.
Era louco em suas aventuras sexuais e tinha manias: usar caveira como símbolo, dormir em uma gaiola gigante, com lençóis pretos na cama. Tudo isso adquiriu um aspecto trágico ao descobrir que tinha AIDS.
O senso provocativo e poderoso de seu trabalho, o estabeleceu como um dos mais importantes artistas do século XX. Hoje Mapplethorpe é representada por galerias em América do Norte e do Sul e Europa e sua obra pode ser encontrada nas coleções dos principais museus de todo o mundo. Além do significado da arte histórica e social de sua obra, seu legado vive através do trabalho da Fundação Robert Mapplethorpe. Ele criou a Fundação em 1988 para promover a fotografia, museus apoio para a arte e a exposição fotográfica, e para financiar pesquisas médicas na luta contra a AIDS.

Fonte: Interview Magazine