sábado, 4 de junho de 2011

O mundo genial e suburbano do Arcade Fire





A BBC de Londres disse que The Suburbs, o novo e tão aguardado terceiro disco do grupo canadense, é indiscutivelmente melhor que Ok Computer, considerado a grande obra do Radiohead. Então, a galera foi à loucura. Os integrantes do Radiohead são considerados deuses do rock pra galera indie e Ok Computer é considerado o grande disco deles e talvez o melhor da história, então, se The Suburbs for realmente melhor, teremos o melhor disco da história. Então lá foi a galera escutar o disco esperando que “Empty Room” fosse a nova “Karma Police”, esperando que Win Butler tivesse tiques espásmicos como o Thom Yorke, e é óbvio que isso não aconteceu. O Arcade Fire tem muita identidade pra querer ser comparado a qualquer banda.
O Arcede fire começou em 2003 vinda do Canadá e no mais recente Grammy 2011 ganhou todos os prêmios, inclusive de álbum do ano, por The Suburbs, lançado em 2010, sucesso comercial e de crítica, mas a tríade sagrada de discos do Arcade Fire vem com os Cds: Funeral (2004), Neon Bible (2007). E todo mundo sabe que os dois primeiros são geniais. E The Suburbs não é melhor dos três.
O Arcade Fire, além de uma banda, é praticamente uma família. Win é casado com Régine e é irmão do Will. Gara, Neufeld, Parry e Kingsbury são como seus filhos adotados e essa família recebe constantemente a visita do amigo Owen Pallet. O ambiente perfeito, onde a melancolia de cada integrante só é sobreposta pelo amor. Amor à vida, amor por si mesmo e aos próximos. Um ambiente onde você pode se submeter ao medo e ao sofrimento, mas que alguém, na hora exata, vai estar lá pra te resgatar.
Em The Suburbs, os irmãos Butler resolveram contar suas vidas, a infância difícil e sobre a vida nos subúrbios. E pra contar essas histórias, além das magníficas orquestrações, a banda adicionou a crueza do rock e obscuridade dos synths. Uma mistura de Depeche Mode com Neil Young, como eles mesmos dissseram. O primeiro clipe oficial de "The Suburbs", a faixa-título do disco quem assina é o diretor Spike Jonze de filmes como: Quero ser john Malkovich, Três reis, Adaptação, Onde vivem os monstros etc. Seria esse o projeto secreto de Jonze com a banda, ou apenas um recorte de algo maior? O clima de ficção científica com adolescentes com suas brincadeiras que aos poucos ficam mais agressivas, é o clima que o clipe de Joke quer passar da banda para os fãs.
O disco é uma história e cada música se encaixa, montando um mosaico de nostalgias e sentimentos. As letras cheias de significado, carregam a melancolia de sempre, com fagulhas de esperança pra serem acessas.
Os destaques são as excelentes “Modern Man”, “Rococo”, “Empty Room” e “Sprawl II (Mountains Beyond Mountains)”. Nessas quatro faixas vamos do som barroco de “Rococo” ao extremo pop com “Modern Man”.
O disco ganha pontos porque além de ser sincero e ousado, tem um apelo pop essencial, brincando com os estilos musicais sem perder a classe. A única ressalva, o único porém, é que a história de The Suburbs ficaria muito mais linda se a voz doce de Régine Chessagne aparecesse mais.
Sem mais elogios na ponta dos dedos, repito que esse, por enquanto, é o disco do ano e um dos maiores discos da história. E acredito que esse não é o clímax da carreira dos canadenses do Arcade Fire. Podem anotar, muita coisa melhor ainda virá.
Até porque hoje em dia não fácil se tornar um gênio hoje em dia, quanto maior a oferta de bandas, maior a competitividade pelo posto de “godlike genious” que as revistas britânicas gostam de oferecer em suas premiações anuais. Mas quem são esses gênios, afinal? O tal troféu sempre vai parar, com contradição, nas mãos dos coroas The Cure, Manic Street Preachers e até Joy Division.
Os gênios estão aqui, agora e na frente dos nossos narizes. Com os seus três discos lançados, o Arcade Fire se comporta com uma banda que tem muito mais história. Funeral, de 2004, é um dos melhores debuts da década passada; o conceitual e mais difícil é Neon Bible, gravado durante 2006 em uma igreja condenada no Quebec, passou longe da popular crise do segundo disco e, de quebra, apareceu com um dos projetos gráficos mais incríveis dos últimos anos. Se houvesse uma crise do terceiro disco, o septeto canadense também não se sentiria ameaçado.
The Suburbs não é um clássico, mas simplesmente porque os clássicos são definidos pelo tempo. Que tal a gente voltar nessa conversa daqui a dez anos? Quando o momento chegar, não duvide da presença do disco no ranking dos melhores da história.
Mais versos de Régine Chassagne e uma maior participação de Owen Pallett, vulgo Final Fantasy, responsável pelos arranjos de cordas do Arcade, não fariam mal a ninguém mas, quando os dois aparecem, haja coração. Os violinos frenéticos abafam a guitarra distorcida e o rock jovial de “Empty Room”, em que Régine, com versos tímidos em francês, consegue conquistar qualquer um com a frase “Toda minha vida é com você”.
Aos 30 anos, Win Butler soa saudosista em algumas faixas. Aliás, essa é a primeira impressão que o disco passa com “The Suburbs”, música carregada por uma baladinha no piano com cara de anos 60. O mesmo piano eficiente e, dessa vez, monotônico reaparece em “We Used To Wait”, mais uma composição que dá gosto cantar junto. Não pela primeira vez, o Arcade Fire se destaca como um grupo de letristas praticamente impecáveis.
The Suburbs não tem uma música mediana sequer a única coisa que você vai ouvir nele são hinos ainda não descobertos e, para te ajudar a descobrir isso, nada melhor do que ouvir o disco no shuffle/random algumas vezes. Em alguns casos, como “Rococo”, o termo “hino” pode ser levado ao pé da letra: não há como não pensar em um “estádio” e “Arcade Fire” são palavras que finalmente começam a combinar, como dá pra notar logo abaixo lotado por pessoas brandando o título da música, só com a base de cordas para sustentá-las.
As melhores composições não se concentram em um único pólo do disco. “Ready To Start”, que aparece logo no início, só encontra uma faixa à sua altura na segunda metade do álbum essa seria “Month of May”, primeira vez em que os canadenses se aventuram e marcam ponto fazendo rock cru, chiado e quase punk.

As investidas do septeto em uma pegada mais leve e doce, como a da inesquecível “Crown of Love” (Funeral, 2004), não falham.“Half Light” não é o ápice do disco, mas “Suburban War” compensa o que ela fica devendo. Alguns versos de “The Suburbs” reaparecem aqui, com uma nova melodia, acompanhados por notas de guitarra que podem te lembrar daquela música do Blink 182 . Régine chega a seu momento de glória com “Sprawl II (Moutains Beyond Mountains)”, em que lidera os vocais sobre uma balada totalmente inusitada, com cara de pop oitentista, mas que não chega a se encaixar nas pistas.
Os subúrbios vão indo embora em baixo tom com o segundo round de “The Suburbs”, mais curto e dramático, parecendo um desabafo choroso de um Win Butler mais nostálgico e criativo do que nunca: “Se eu pudesse ter de volta o tempo que desperdiçamos, sei que eu adoraria desperdiçá-lo novamente”.

Fonte: Rockinrollpress