terça-feira, 30 de dezembro de 2008

A ilha desconhecida

Um homem foi bater à porta do rei e disse-lhe, Dá-me um barco. A casa do rei tinha muitas portas, mas aquela era a das petições. Como o rei passava todo o tempo sentado à porta dos obséquios (entenda-se, os obséquios que lhe faziam a ele), de cada vez que ouvia alguém a chamar à porta das petições fingia-se desentendido, e só quando o ressoar contínuo da aldabra de bronze se tornava, mas do que notório, escandaloso, tirando o sossego à vizinhança (as pessoas começavam a murmurar, Que rei temos nós, que não atende), é que dava ordem ao primeiro-secretário para ir saber o que queria o impetrante, que não havia maneira de se calar. Então, o primeiro-secretário chamava o segundo-secretário, este chamava o terceiro, que mandava o primeiro-ajudante, que por sua vez mandava o segundo, e assim por aí fora até chegar à mulher da limpeza, a qual, não tendo ninguém em quem mandar, entreabria a porta das petições e perguntava pela frincha, Que é que tu queres. O suplicante dizia ao que vinha, isto é, pedia o que tinha de pedir, depois instalava-se a um canto da porta, à espera de que o requerimento fizesse, de um em um, o caminho contrário, até chegar ao rei. Ocupado como sempre estava com os obséquios, o rei demorava a resposta, e já não era pequeno sinal de atenção ao bem-estar e felicidade do seu povo quando resolvia pedir um parecer fundamentado por escrito ao primeiro-secretário, o qual, escusado seria dizer, passaca a encomenda ao segundo-secretário, este ao terceiro, sucessivamente, até chegar outra vez à mulher da limpeza, que despachava sim ou não conforme estivesse a maré.
Contudo, no caso do homem que queria um barco, as coisas não se passaram bem assim. Quando a mulher da limpeza lhe perguntou pela nesga da porta, Que é que tu queres, o homem, em lugar de pedir, como era o costume de todos, um título, uma condecoração, ou simplesmente dinheiro, respondeu, Quero falar ao rei, Já sabes que o rei não pode vir, está na porta dos obséquios, respondeu a mulher, Pois então vai lá dizer-lhe que não saio daqui até que ele venha, pessoalmente, saber o que quero, rematou o homem, e deitou-se ao comprido no limiar, tapando-se com a manta por causa do frio. Entrar e sair, só por cima dele. Ora, isto era um enorme problema, se tivermos em consideração que, de acordo com a pragmática das portas, ali só se podia atender um suplicante de cada vez, donde resultava que, enquanto houvesse alguém à espera de resposta, nenhuma outra pessoa se poderia aproximar a fim de expor as suas necessidades ou as sua ambições. À primeira vista, quem ficava a ganhar com esse artigo do regulamento era o rei, dado que, sendo menos numerosa a gente que o vinha incomodar com lamúrias, mais tempo ele passava a ter, e mais descanso, para receber, contemplar e guardar os obséquios. À segunda vista, porém, o rei perdia, e muito, porque os protestos públicos, ao notar-se que a resposta estava a tardar mais do que o justo, faziam aumentar gravemente o descontentamento social, o que, por seu turno, ia ter imediatas e negativas consequências no afluxo de obséquios. No caso que estamos narrando, o resultado da ponderação entre os benefícios e os prejuízos foi ter ido o rei, ao cabo de três dias, e em real pessoa, à porta das petições, para saber o que queria o intrometido que se havia negado a encaminhar o requerimento pelas competentes vias burocráticas. Abre a porta, disse o rei à mulher da limpeza, e ela perguntou, Toda, ou só um bocadinho. O rei duvidou por um instante, na verdade não gostava muito de se expor aos ares da rua, mas depois reflexionou que pareceria mal, além de ser indigno de sua majestade, falar com um súbdito através de uma nesga, como se tivesse medo dele, mormente estando a assistir ao colóquio a mulher da limpeza, que logo iria dizer por aí sabe Deus o quê, De par em par, ordenou. O homem que queria um barco levantou-se do degrau da porta quando começou a ouvir correr os ferrolhos, enrolou a manta e pôs-se à espera. Estes sinais de que finalmente alguém viria atender, e que portanto a praça não tardaria a ficar desocupada, fizeram aproximar-se da porta uns quantos aspirantes à liberalidade do trono que por ali andavam, prontos a assaltar o lugar mal ele vagasse. O inopinado aparecimento do rei (nunca uma tala coisa havia sucedido desde que ele andava de coroa na cabeça) causou uma surpresa desmedida, não só aos ditos candidatos mas também à vizinhança que atraída pelo repentino alvoroço, assomara às janelas das casas, no outro lado da rua. A única pessoa que não se surpreendeu por aí além foi o homem que tinha vindo pedir um barco. Calculara ele, e acertara na previsão, que o rei, mesmo que demorasse três dias, haveria de sentir-se curioso de ver a cara de quem, sem mais nem menos, com notável atrevimento, o mandar chamar. repartido pois entre a curiosidade que não pudera reprimir e o desagrado de ver tanta gente junta, o rei, com o pior dos modos, perguntou três perguntas seguidas, Que é que queres, Por que foi que não disseste logo o que querias, Pensarás tu que eu não tenho mais nada que fazer, mas o homem só respondeu à primeira pergunta, Dá-me um barco, disse. O assombro deixou o rei a tal ponto desconcertado, que a mulher da limpeza se apressou a chegar-lhe uma cadeira de palhinha, a mesma em que ela própria se sentava quando precisava de trabalhar de linha e agulha, pois além da limpeza, tinha também à sua responsabilidade alguns trabalhos menores de costura no palácio, como passajar as peúgas dos pajens. Mal sentado, porque a cadeira de palhinha era muito mais baixa que o trono, o rei estava a procurar a melhor maneira de acomodar as pernas, ora estendendo-as para os lados, enquanto o homem que queria um barco esperava com paciência a pergunta que se seguiria, E tu para que queres um barco, pode-se saber, foi o que o rei de facto perguntou quando finalmente se deu por instalado, com sofrível comodidade, na cadeirada mulher da limpeza. Para ir à procura da ilha desconhecida, respondeu o homem, Que ilha desconhecida, perguntou o rei disfarçando o riso, como se tivesse na sua frente um louco varrido, dos que têm a mania das navegações, a quem não seria bom contrariar logo de entrada, A ilha desconhecida, repetiu o homem, Disparte, já não há ilhas desconhecidas, Quem foi que te disse, rei, que já não há ilhas desconhecidas, estão todas nos mapas, Nos mapas só estão as ilhas conhecidas, E que ilha desconhecida é essa que queres ir à procura, Se eu to pudesse dizer, então não seria desconhecida, A quem ouviste falar dela, perguntou o rei, agora mais sério, A ninguém, Nesse caso, por que teimas em dizer que ela existe, Simplesmente por que é impossível que não exista uma ilha desconhecida, E vieste aqui para me pedires um barco, Sim, vim aqui para pedir-lhe um barco, E tu quem és, para que eu to dê, E tu quem és, para que não mo dês, Sou o rei deste reino, e os barcos do reino pertencem-me todos, Mais lhes pertencerás tu a eles do que eles a ti, Que queres dizer, perguntou o rei inquieto, Que tu, sem eles, és nada, e que eles, sem ti, poderão sempre navegar. às minhas ordens, com os meus pilotos e os meus marinheiros, Não te peço marinheiros nem pilotos, só te peço um barco, E essa ilha desconhecida, se a encontrares, será para mim, A ti, rei, so te interessam as ilhas conhecidas. Também me interessam as desconhecidas quando deixam de o ser, Talvez esta não se deixe conhecer, Então não te dou o barco, Darás. Ao ouvirem esta palavra, pronunciada com tranquila firmeza, os aspirantes à porta das petições, em quem, minuto após minuto, desde o princípio da conversa, a impaciência vinha crescendo, e mais para se verem livres dele do que por simpatia solidária, resolveram intervir a favor do homem que queria o barco, começando a gritar, Dá-lhe o barco, dá-lhe o barco. O rei abriu a boca para dizer à mulher da limpeza que chamasse a guarda do palácio a vir restabelecer imediatamente a ordem pública e impr a disciplina, mas, nesse momento, as vizinhas que assistiam das janelas juntaram-se ao coro com entusiasmo, gritando como os outros, Dá-lhe o barco, dá-lhe o barco. Perante uma tão iniludível manifestação da vontade popular e preocupado com o que, neste meio tempo, já haveria perdido na porta dos obséquios, o rei levantou a mão direita a impor silêncio e disse, Vou dar-te um barco, mas a tripulação terás de arranjá-la tu, os meus marinheiros são-me precisos para as ilhas conhecidas. Os gritos de aplauso do público não deixaram que se percebesse o agradecimento do homem que viera pedir um barco, aliás o movimento dos lábios tanto teria podido ser Obrigado, meu senhor, como Eu cá me arranjarei, mas o que distintamente se ouviu foi o dito seguinte do rei, Vais à doca, perguntas lá pelo capitão do porto, dizes-lhe que te mandei eu, e ele que te dê o barco, levas o meu cartão. O homem que ia receber um larco leu o cartão de visita, onde dizia Rei por baixo do nome do rei, e eram estas as palavras que ele havia escrito sobre o ombro da mulher da limpeza, Entrega ao portador um barco, não precisa ser grande, mas que navegue bem e seja seguro, não quero ter remorsos na consciência se as coisas lhe correrem mal. Quando o homem levantou a cabeça, supõe-se que desta vez é que iria agradecer a dádiva, já o rei se tinha retirado, só estava a mulher da limpeza a olhar para ele com cara de caso. O homem desceu do degrau da porta, sinal de que os outros canditados podiam enfim avançar, nem valeria a pena explicar que a confusão foi indescritível, todos a quererem chegar ao sítio em primeiro lugar, mas com tão má sorte que a porta já estava fechada outra vez. A aldraba de bronze tornou a chamar a mulher da limpeza, mas a mulher da limpeza não está, deu a volta e saiu com o balde e a vassoura por outra porta, a das decisões, que é raro ser usada, mas quando é, é. Agora sim, agora pode-se compreender o porquê da cara de caso com que a mulher da limpeza havia estado a olhar, foi esse o preciso momento em que ela resolveu ir atrás do homem quando ele se dirigisse ao porto a tomar conta do barco. Pensou ela que já bastava de uma vida a limpar e a lavar palácios, que tinha chegado a hora de mudar de ofício, que lavar a limpar barcos é que era a sua vocação verdadeira, no mar, ao menos, a água nunca lhe faltaria. O homem nem sonha que, não tendo ainda sequer começado a recrutar os tripulantes, já leva atrás de si a futura encarregada das baldeações e outros asseios, também é deste modo que o destino costuma comportar-se connosco, já está mesmo atrás de nós, já entendeu a mão para torcar-nos o ombro, e nós ainda vamos a murmurar, Acabou-se, não há mais que ver, é tudo igual.
Andando, andando, o homem chegou ao porto, foi à doca, perguntou pelo capitão, e enquanto ele não chegava deitou-se a adivinhar qual seria, de quantos barcos ali estavam, o que iria ser o seu, grande já se sabia que não, o cartão de visita do reio era muito claro neste ponto, por conseguinte ficavam de fora os paquetes, os cargueiros e os navios de guerra, tão-pouco poderia ser ele tão pequeno que resistisse mal às forças do vento e aos rigores do mar, o rei também havia sido categórico neste ponto, Que navegue bem e seja seguro, foram estas as suas formais palavras, assim implicitamente excluindo os botes, as faluas e os escaleres, os quais, sendo bons navegantes, e seguros, conforme a condição de cada qual, não tinham nascido para sulcar os oceanos, que é onde se encontram as ilhas desconhecidas. Um pouco afastada dali, escondida por trás de uns bidões, a mulher da limpeza correu os olhos pelos barcos atracados, Para o meu gosto, aquele, pensou, porém a sua opinião não contava, nem sequer havia sido ainda contratada, vamos ouvir antes o que dirá o capitão do porto. O capitão veio, leu o cartão, mirou o homem de alto a baixo, e fez a pergunta que o rei se tinha esquecido de fazer, Sabes navegar, tens carta de navegação, ao que o homem respondeu, Aprenderei no mar. O capitão disse, Não to aconselharia, capitão sou eu, e não me atrevo com qualquer barco, Dá-me então um com que possa atrever-me eu, não, um desses não, dá-me antes um barco que eu respeite e que possa respeitar-me a mim, Essa linguaguem é de marinheiro, mas tu não és marinheiro, Se tenho a linguagem, é como se o fosse. O capitão tornou a ler o cartão do rei, depois perguntou, Poderás dizer-me para que queres o barco, Para ir à procura da ilha desconhecida, Já não há ilhas desconhecidas, O mesmo me disse o rei, O que ele sabe de ilhas, aprendeu-o comigo, É estranho que tu, sendohomem do mar, me digas isso, que já não há ilhas desconhecidas, homem da terra sou eu, e não ignoro que todas as ilhas, mesmo as conhecidas, são desconhecidas enquanto não desembarcarmos nelas, Mas tu, se bem entendi, vais à procura de uma onde nunca ninguém tenha desembarcado, Sabê-lo-ei quando lá chegar, Se chegares, Sim, às vezes naufraga-se pelo caminho, mas, setal me viesse a acontecer, deverias escrever nos anais do porto que o ponto a que cheguei foi esse, Queres dizer que chegar, sempre se chega, não serias quem és se não o soubesses já. O capitão do porto disse, Vou dar-te a embarcação que te convém, Qual é ela, É um barco com muita experiência, ainda do tempo em que toda a gente andava à procura de ilhas desonhecidas, Qual é ele, Julgo até que encontrou algumas, Qual, Aquele. Assim que a mulher da limpeza percebeu para onde o capitão apontava, saiu a correr de detrás dos bidões e gritou, è o meu barco, é o meu barco, há que perdoar-lhe a insólita reivindicação de propriedade, a tododos os títulos abusiva, o barco era aquele de que ela tinha gostado, simplesmente. Parece uma caravela, disse o homem, Mais ou menos, concordou o capitão, no princípio era uma caravela, depois passou por arranjos e adaptações que a modificaram um bocado, Mas continua a ser uma caravela, Sim, no conjunto conserva o antigo ar, E tem mastros e velas, Quando se vai procurar ilhas desconhecidas, é o mais recomendável. A mulher da limpeza não se conteve, Para mim não quero outro, Quem és tu, perguntou o homem, Não te lembras de mim, Não tenho ideia, Sou a mulher da limpeza, Qual limpeza, A do palácio do rei, A que abria a porta das petições, Não havia outra, E por que não estás tu no palácio do rei a limpar e a abrir portas, Porque as portas que eu realmente queria já foram abertas e porque de hoje em diante só limparei barcos, Então estás decidida a ir comigo procurar a ilha desconhecida, Saí do palácio pela porta das decisões, Sendo assim, vai para a caravela, vê como está aquilo, depois do tempo que passou de e precisar de uma boa lavagem, e tem cuidado co as gaivotas, que não são de fiar, Não queres vir comigo conhecer o teu barco por dentro, Tu disseste que era teu, Desculpa, foi só porque gostei dele, Gostar é provavelmente a melhor maneira de ter, ter deve ser a pior maneira de gostar. O capitão do porto interrompeu a conversa, Tenho de entregar as chaves ao dono do barco, a um ou a outro, resolvam-se, a mim tanto se me dá, Os barcos têm chave, perguntou o homem, Para entrar, não, mas lá estão as arrecadações e os paióis, e a escrivaninha do comandante com o dia´rio de bordo, Ela que se encarregue de tudo, eu vou recrutar a tripulação, disse o homem, e afastou-se. A mulher da limpeza foi ao escritório do capitão para recolher as chaves, depois entrou no barco, duas coisas lhe valeram aí, a vassoura do palácio e a prevenção contra as gaivotas, ainda não tinha acabado de atravessar a prancha que ligava a amurada ao cais e já as malvadas estavam a precipitar-se sobre ela aos guinchos, furiosas, de goela aberta, como se ali mesmo a quisessem devorar. Não sabiam com quem se metiam. A mulher da limpeza pousou o balde, meteu as chaves no seio, firmou bem os pés na prancha, e, redemoinhando a vassoura como se fosse um espadão dos antigos, fez debandar o bando assassino. Foi só quando entrou no barco que compreendeu a ira das gaivotas, havia ninhos por toda a parte, muitos deles abandonados, outros ainda com ovos, e uns poucos com gaivotinhos de bico aberto, à espera da comida, Pois sim, mas o melhor é mudarem-se daqui,um barco que vai procurar a ilha desconhecida não pode ter este aspecto, como se fosse um galinheiro, disse. Atirou para a água os ninhos vazios, quanto aos outros deixou-os ficar, até ver. Depois arregaçou as mangas e pôs-se a lavar a coberta. Quando acabou a dura tarefa, foi abrir o paiol das velas e procedeu a um exame minucioso do estado das costuras, depois de tanto tempo sem irem ao mar e sem terem de suportar os esticões saudáveis do vento. As velas são os músculos do barco, basta ver como incham quando se esforçam, mas, e isso mesmo sucede aos músculos, se não se lhes dá uso regularmente, abrandam, amolecem, perdem nervos das velas, pensou a mulher da limpeza, comntente por estar a aprender tão depressa a arte de marinharia. Achou esgarçadas algumas bainhas, mas contentou-se com assinal´-las, uma vez que para este trabalho não podiam servir a linha e a agulha com que passajava as peúgas dos pajens antigamente, quer dizer, ainda ontem. Quanto aos outros paióis, viu logo que estavam vazios. Que o da pólvora estivesse desmunido,salvo uns pozinhos negros no fundo, que primeiro mais lhe pareceram caganitas de rato, não lhe importou nada, de facto não está escrito em nenhuma lei, pelo menos até onde a sabedoria duma mulher da limpeza é capaz de alcançar, que ir em busca duma ilha desconhecida tenha de ser forçosamente uma empresa de guerra. Já a ralou, e muito, a falta absoluta de munições de boca no paiol respectivo, não por si própria, que estava mais do que acostumada ao mau passadio do palácio, mas por causa do homem a quem deram este barco, não tarda que o sol se ponha, e ele a aparecer-me aí a clamar que tem fome, que é o dito de todos os homens mal entram em casa, como se só eles é que tivessem estômago e sofressem da necessidade de o encher. E se já traz marinheiros para a tripulação, que são uns ogres a comer, então é que não sei como nos iremos governar, disse a mulher da limpeza.
Não valia a pena ter-se preocupado tanto. O sol havia acabado de sumir-se no oceano quando o homem que tinha um barco surgiu no extremo do cais. Trazia um embrulho na mão, porém vinha sozinho e cabisbaixo. A mulher da limpeza foi esperá-lo à prancha, mas antes que ela abrisse a boca para se inteirar de como lhe tinha corrido o restodo dia, ele disse, Está descansada, trago aqui comida para os dois, E os marinheiros, perguntou ela, Não veio nenhum, como podes ver, Mas deixaste-os apalavrados, ao menos, tornou ela a perguntar, Disseram-me que já não há ilhas desconhecidas, e que, mesmo que as houvesse, não iriam eles tirar-se do sossego dos seus lares e da boa vida dos barcos de carreira para se meterem em aventuras oceânicas, à procura de um impossível, como se ainda estivéssemos no tempo do mar tenebroso, E não lhes falaste da ilha desconhecida, Como poderia falar-lhes eu duma ilha desconhecida, se não a conheço, Mas tens a certeza de que ela existe, Tanta como a de ser tenebroso o mar, Neste momento, visto daqui, com aquela água cor de jade e o céu como um incêncio, de tenebroso não lhe encontro nada, É uma ilusão tua, também as ilhas às vezes parece que flutuam sobre as águas, e não é verdade, Que pensas fazer, se te falta a tripulação, Ainda não sei, Podíamos ficar a viver aqui, eu oferecia-me para lavar os barcos que vêm à doca, e tu, E eu, Tens com certeza um mester, um ofício, uma profissão, como agora se diz, Tenho, tive, terei se for preciso, mas quero encontrar a ilhadesconhecida, quero saber quem sou eu quando nela estiver, Não o sabes, Se não sais de ti, não chegas a saber quem és, O filósofo do rei, quando não tinha que fazer, ia sentar-se ao pé de mim, a ver-me passajar as peúgas dos pajens, e às vezes dava-lhe para filosofar, dizia que todo o homem é uma ilha, eu, como aquilo não era comigo, visto que sou mulher, não lhe dava importância, tu que achas, Que é necessário sair da ilha para ver a ilha, que não nos vemos se não nos saímos de nós, Se não saímos de nós próprios, queres tu dizer, Não é a mesma coisa. O incêndio do céu ia esmorecendo, a água arroxeou-se de repente, agora nem a mulher da limpeza duvidaria de que o mar é mesmo tenebroso, pelo menos a certas horas. Disse o homem, Deixemos as filosofias para o filósofo do rei, que para isso é que lhe pagam, agora vamos nós comer, mas a mulher não esteve de acordo, Primeiro, tens de ver o teu barco, só o conheces por fora, Que tal o encotraste, Há algumas bainhas das velas que estão a precisar de reforço, Desceste ao porão, encontraste água aberta, No fundo vê-se alguma, de mistura com o lastro, mais isso parece que é próprio, faz bem ao barco, Como foi que aprendeste essas coisas, Assim, Assim como, Como tu, quando disseste ao capitão do porto que aprenderias a navegar no mar, Ainda não estamos no mar, Mas já estamos na água, Sempre tive a ideia de que para a navegaç]ao só há dois mestres verdadeiros, um que é o mar, o outro que é o barco, E o céu, estás a esquecer-te do céu, Sim, claro, o céu, Os ventos, As nuvens, O céu, Sim, o céu.
Em menos de um quarto de hora tinham acabado a volta pelo barco, uma caravela, mesmo transformada, não dá para grandes passeios. É bonita, disse o homem, mas se eu não conseguir arranjar tripulantes suficientes para a manobra, terei de ir dizer ao rei que já não a quero, Perdes o ânimo logo à primeira contrariedade, A primeira contrariedade foi estar à espera do rei três dias, e não desisi, Se não encontrares marinheiros que queiram vir, cá nos arranjaremos os dois, Estás doida, duas pessoas sozinhas não seriam capazes de governar um barco destes, eu teria de estar sempre ao leme, e tu, nem vale a pena estar a explicar-te, é uma loucura, Depois veremos, agora vamos mas é comer. Subiram para o castelo de popa, o homem ainda a protestar contra o que chamara loucura, e, ali, a mlher da limpeza abriu o farnel que ele tinha trazido, um pão, queijo duro, de cabra, azeitonas, uma garrafa de vinho. A lua já estava meio palmo sobre o mar, as sombras da verga e do mastro grande vieram deita-se-lhes aos pés. É realmente bonita a nossa caravela, disse a mulher, e emendou logo, A tua, a tua caravela, Desconfio que não o será por muito tempo, Navegues ou não navegues com ela, é tua, deu-ta o rei, Pedi-lha para ir procurar uma ilha esconhecida, Mas estas coisas não se fazem do pé para a mão, levam o seu tempo, já o meu avô dizia que quem vai ao mar avia-se em terra, e mais não era ele marinheiro, Sem tripulantes não poderemos navegar, Já o tinhas dito, E há que abastecer o barco das mil coisas necessárias a uma viagem como esta, que não se sabe aonde nos levará, Evidentemente, e depois teremos de esperar que seja a boa estação, e sair com a boa maré, e vir gente ao cais a desejar-nos boa viagem, Estás a rir-te de mim, Nunca me riria de quem me fez sair pela porta das decisões, Desculpa-me, E não tornarei a passar por ela, suceda o que suceder. O luar iluminava em cheio a cara da mulher da limpeza, É bonita, realmente é bonita, pensou o homem, que desta vez não estava a referir-se à caravela. A mulher, essa, não pensou nada, devia ter pensado tudo durante aqueles três dias, quando entreabira de vez em quando a porta para ver se aquele ainda continuava lá fora, à espera. Não sobrou migalha de pão ou de queijo, nem gotade vinho, os caroços das azeitonas foram atirados para a água, o chão está tão limpo como ficara quando a mulher da limpeza lhe passou por cima o último esfregão. A sereia de um paquete que saía para o mar soltou um ronco potente, como deviam ter sido os do leviatã, e a mulher disse, Quando for a nossa vez faremos menos barulho. Apesar de estarem no interior da doca, a água ondulou um pouco à passagem do paquete, e o homem disse, Mas baloiçaremos muito mais. Riram os dois, depois ficaram calados, passado um bocado um deles opinou que o melhor seria rem dormir, Não é que eu tenha muito sono, e o outro concordou, Nem eu, depois calaram-se outra vez, a lua subiu e continuou a subir, em certa altura a mulher disse, Há beliches lá em baixo, o homem disse, Sim, e foi então que se levantaram, que desceram à coberta, aí a mulher disse, Até amanhã, eu vou para este lado, e o homem respondeu, E eu vou para este, até amanhã, não disseram bombordo nem estibordo. Decerto por estarem ainda a praticar na arte. A mulher voltou atrás, Tinha-me esquecido, tirou do bolso do avental dois cotos de vela, Encontrei-os quando andava a limpar, o que não tenho é fósforos, Eu tenho, disse o homem. Ela segurou as velas, uma em cada mão, ele acendeu um fósforo, depois abrigando a chama sob a cúpula dos dedos curvados, levou-a com todo o cuidado aos velhos pavios, a luz pegou, cresceu lentamente como faz o luar, banhou a cara da mulher da limpeza, nem seria preciso dizer o que ele pensou, É bonita, mas o que ela pensou, sim, Vê-se bem que só tem olhos para a ilha desconhecida, aqui está como as pessoas se enganam nos sentidos do olhar, sobretudo ao princípio. Ela entregou-lhe uma vela, disse, Até amanhã, dorme bem, ele quis dizer o mesmo doutra maneira, Que tenhas sonhos felizes, foi a frase que lhe saiu, daqui a pouco, quando lá estiver em baixo, deitado no seu beliche, vir-lhe-ão à ideia outras frases, mais espirituosas, sobretudo mais insinuantes, como se espera que sejam as de um homem quando está a sós com uma umulher. Perguntava-se se já dormiria, se teria tardado a entrar no sono, depois imaginou que andava à procura dela e não a encontrava em nenhum sítio, que estavam perdidos os dois num barco enorme, o sonho é um prestidigitador hábil, muda as proporções das coisas e as suas distâncias, separa as pessoas, e elas estão juntas, reúne-as, e quase não se vêem uma à outra, a mulher dorme a poucos metros e ele não soube como alcança-la, quando é tão fácil ir de bombordo a estibordo.
Tinha-lhe desejado felizes sonhos, mas foi ele quem levou toda a noite a sonhar. Sonhou que a sua caravela ia no mar alto, com as três velas triangulares gloriosamente enfunadas, abrindo caminho sobre as ondas, enquanto ele manejava a roda do leme e a tripulação descansava à sombra. Não percebia como podiam ali estar os marinheiros que no porto e na cidade se tinham recusado a embarcar com ele para ir à procura da ilha desconhecida, provavelmente arrependeram-se da grosseira ironia com que o haviam tratado. Via animais espalhados pela coberta, patos coelhos, galinhas, o habitual da criação doméstica, debicando os grãos de milho ou roendo as folhas de couve que um marinheiro lhes atirava, não se lembrava de quando os tinha trazido para o barco, fosse como fosse era natural que ali estivessem, imaginemos que a ilha desconhecida é, como tantas vezes o foi no passado, uma ilha deserta, o melhor será jogar pelo seguro, todos sabemos que abrir a porta da coelheira e agarrar um coelho pelas orelhas sempre foi mais fácil do que persegui-lo por montes e vales. Do fundo do porão veio agora um coro de relinchos de cavalos, de mugidos de bois, de zurros de asnos, as vozes dos nobres animais necessários para o trabalho pesado, e como foi que vieram eles, como podem estar numa caravela onde a tripulação humana mal cabe, de súbito o vento deu uma guinada, a vela maior bateu e ondulou, por trás dela estava o que antes não se vira, um grupo de mulheres que mesmo sem as contar se adivinha serem tantas quantos os marinheiros, ocupam-se nas suas coisas de mulheres, ainda não chegou o tempo de se ocuparem doutras, está claro que isto só pode ser um sonho, na vida real nunca se viajou assim. O homem do leme buscou com os olhos a mulher da limpeza e não a viu, Talvez esteja no beliche de estibordo, a descansar da lavagem da coberta, pensou, mas foi um pensar fingido, porque ele bem sabe, embora também não saiba como o sabe, que ela à última hora não quis vir, que saltou para a ilha desconhecida, vou-me embora, e não era verdade, agora mesmo andam os olhos dele a procurá-la e não a encontram. Neste momento o céu cobriu-se e começou a chover, e, tendo chovido, principiaram a brotar inúmeras plantas das fileiras de sacos de terra alinhadas ao longo da amurada, não estão ali porque se suspeite que não haja terra bastante na ilha desconhecida, mas porque assim se ganhará tempo, no dia em que lá chegarmos só teremos que transplantar as árvores de fruto, semear os grãos das pequenas searas que vão amadurecer aqui, enfeitar os canteiros com as flores que desabrocharão destes botões. O homem do leme pergunta aos marinheiros que descansam na cobertura se avistam alguma ilha desabitada, e eles respondem que não vêem nem de umas nem das outras, mas que estão a pensar em desembarcar na primeira terra povoada que lhes apareça, desde que haja lá um porto onde fundear, uma taberna onde beber e uma cama onde folgar, que sim não se pode, com toda esta gente junta. E a ilha desconhecida, perguntou o homem do leme, A ilha desconhecida é coisa que não existe, não passa duma idéia da tua cabeça, os geógrafos do rei foram ver nos mapas e declararam que ilhas por conhecer é coisa que se acabou desde há muito tempo, Devíeis ter ficado na cidade, em lugar de vir atrapalhar-me a navegação, Andávamos à procura de um sítio melhor para viver e resolvemos aproveitar a tua viagem, Não sois marinheiros, Nunca o fomos, Sozinho, não serei capaz de governar o barco, Pensasses nisso antes de ir pedi-lo ao rei, o mar não ensina a navegar. Então o homem do leme viu uma terra ao longe e quis passar adiante, fazer de conta que ela era a miragem de uma outra terra, uma imagem que tivesse vindo do outro lado do mundo pelo espaço, mas os homens que nunca haviam sido marinheiros protestaram, disseram que ali mesmo é que queriam desembarcar, Esta é uma ilha do mapa, gritaram, matar-te-emos se não nos levares lá. Então, por si mesma, a caravela virou a proa em direcção à terra, entrou no porto e foi encostar à muralha da doca, Podeis ir-vos, disse o homem do leme, acto contínuo as´ram em correnteza, primeiro as mulheres, depois os homens, mas não foram sozinhos, levaram com eles os patos, os coelhos e as galinhas, levaram os bois, os burros e os cavalos, e até as gaivotas, uma após outra, levantaram voo e se foram do barco transportando no bico os seus gaivotinhos, proeza que não tinha sido cometida antes, mas há sempre uma vez. O homem do leme assistiu à debandada em silêncio, não fez nada para reter os que o abandonavam, ao menos tinham-no deixado com as árvores, os trigos e as flores, com as trepadeiras que se enrolavam nos mastros e pendiam da amurada como festões. Por causa do atropelo da saída haviam-se rompido e derramado os sacos de terra, de modo que a coberta era toda ela como um campo lavrado e semeado, só falta que venha um pouco mais de chuva para que seja um bom ano agrícola. Desde que a viagem à ilha desconhecida começou que não se vê o homem do leme comer, deve ser porque está a sonhar, apenas a sonhar, e se no sonho lhe apetecesse um pedaço de pão ou uma maçã, seria um puro invento, nada mais. As raízes das árvores já estão penetrando no cavername, não tarda que estas velas içadas deivem de ser precisas, bastará que o vento sopre nas copas e vá encaminhando a caravela ao seu destino. É uma floresta que navega e se balanceia sobre as ondas, uma floresta onde, sem saber-se como, começaram a cantar pássaros, deviam estar escondidos por aí e de repente decidiram sair à luz, talvez porque a seara já esteja madura e é preciso ceifá-la. Então o homem trancou a roda do leme e desceu ao campo com a foice na mão, e foi quando tinha cortado as primeiras espigas que viu uma sombra ao lado da sua sombra. Acordou abraçado à mulher da limpeza, e ela a ele, confundidos os corpos, confundidos os beliches, que não se sabe se este é o de bombordo ou o de estibordo. Depois, mal o sol acabou de nascer, o homem e a mulher foram pintar na proa do barco, de um lado e do outro, em letras brancas, o nome que ainda faltava dar à caravela. Pela hora do meio-dia, com a maré, A Ilha Desconhecida fez-se enfim ao mar, à procura de si mesma.

(José Saramago)

Edvard Munch



"Minha pintura é na verdade, uma confissão feita pelo

meu arbítrio, uma tentativa de esclarecer a mim mesmo

meu conceito de vida. Não quis perder a esperança de poder

ajudar aos outros alcançar a percepção sobre si mesmos."

(Edvard Munch)

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Todo mundo quer ser "Cool"

Para muita gente, ser cool é ter uma etiqueta no jeans provando que a calça custou R$ 2 mil. E os comerciais de TV podem mesmo dar a impressão de que, para merecer a qualificação, tudo o que é preciso é estar antenado com a moda e ter uma aparência bacana. Ser cool não é um produto que pode ser comprado. É uma atitude de rebeldia e, por isso mesmo, o importante é escapar de tudo aquilo que é vendido pela mídia como descolado.
Ou você é cool ou não é. Observe as atitudes de ícones da música e do cinema de várias épocas, como: Miles Davis, Marlon Brando, Humphrey Bogart, Cary Grant, Janis Joplin, Orlando Bloom, Wagner Moura, Paulo César Pereio, Scarlett Johansson, Ladyhawke, M.I.A, Liam Gallagher, Carl Barat, Damon Albarn, Johnny Marr e conclua que todos tem em comum, o que os une todos esses é um completo descaso com o que pensa a sociedade. Em resumo, ser cool é saber dizer: dane-se, inclusive para si mesmo.
O cool nasceu no gueto, como uma resposta à discriminação social. Era a forma de expressão daqueles que não encontravam espaço no mundinho branco e protestante que controlava a sociedade americana. Foram os negros que ouviam o jazz, os mafiosos italianos que forjaram a atitude cool. Como essas pessoas não suportavam as injustiças que sofriam, decidiram desdenhar as instituições - em vez de bater de frente com elas. O cool não está preocupado em mobilizar as pessoas para mudar a sociedade: ele prefere ficar de longe, ironizando todos os protocolos sociais porque sabe que fazer barulho costuma não resolver nada.
Também não adianta fazer barulho para mostrar o quanto você é cool. É como ser poeta. Ninguém pode se autoproclamar. As pessoas é que devem considerá-lo como tal.
Por isso, quem se acha cool, na verdade, está mais distante de sê-lo. Alguns dos que quiseram construir essa imagem se deram mal. Foi o caso do ator Colin Farrell, que deixou que seus bajuladores vazassem que ele cheirava muita cocaína e bebia litros de uísque. A imprensa americana percebendo a jogada de marketing, escreveu que era preciso o dobro das substâncias que ele dizia usar para conseguir assistir a qualquer filme dele.
O cool, como é algo natural, não precisa de holofotes para se afirmar. Mick Jagger, vocalista dos Rolling Stones, ditou os preceitos do cool nos anos de 1960, mas o sucesso lhe subiu à cabeça. De descolado, o músico virou um mala. Sua postura de estrelinha deixou claro que o verdadeiro cool da banda era Charles Watts. O baterista ganha a vida com rock, mas gosta mesmo é de jazz. Ele não se impressiona por sua banda ser considerada a maior do planeta. Na década de 1980, quando o grupo estava fora de sintonia e o ego de Mick Jagger conseguia superar a quantidade de drogas que ele consumia, o vocalista ligou, bêbado, perguntando onde estava o baterista de sua banda. Do outro lado da linha, Watts desligou o telefone com calma, tomou um banho, vestiu um terno e foi ao quarto de Jagger. A resposta para o estrelismo do vocalista, de tratar o conjunto como se fosse seu, foi um soco na cara. Sem perder a pose, saiu do quarto, voltou para a cama e dormiu.
Elvis Presley é um outro exemplo de como ser cool. Ele surgiu chocando as velhinhas com seu remelexo pélvico, o que não era tanta novidade já que os negros do jazz se chacoalhavam desde a década de 1930. Quando lançou moda, Elvis era o bonitão que vestia o estereótipo de selvagem. O cinema adorou e ele virou rei. Ele tinha sua majestade, mas só se tornou realmente cool nos anos de 1970. Com uma pança proporcional às costeletas, vestido com macacões de franjas e bocas-de-sino gigantescas, ele dava desengonçados golpes de caratê em seus shows. Cantava músicas melosas, flertava com o country e era o ídolo das coroas. E continuava sendo bom. Era tão cool que até hoje tem gente procurando por ele, dizendo que não morreu.
Se pudéssemos estabelecer uma base das cinco principais características que fariam de um personagem de cinema ou um artista "cool" seria m as seguintes:

1) O Personagem X deve ser completamente irresistível às outras pessoas, tanto do sexo oposto ou não. Há trinta anos ameaçando qualquer um apenas com o dedo indicador.
2) Não só de frases se compõe o "cool". Se isso fosse verdade, todo o filme de David Mamet seria encaixado nessa categoria. O personagem deve saber como pronunciar aquela frase, incluindo a entonação, o senso de humor e o olhar. Às vezes, somente o olhar é necessário. E além disso, o Personagem X deve ter um bordão ou um gesto que sempre o caracterize. Talvez o jeito de andar, ou o jeito de levantar o dedo ao ameaçar alguém, o personagem sempre será reconhecido por isso.
3) Infelizmente, o visual faz o Personagem X. Algumas vezes, é apenas um chapéu fedora, chicote e jaqueta surrada, um conjunto de terno e gravata preta e camisa branca com um grande penteado afro, ou até mesmo uma armadura que cubra totalmente o artista. O visual é parte fundamental da procura pela essência do "cool".
4) Não há ninguém mais esperto do que o nosso personagem X. Ele conhece as músicas mais obscuras do planeta e conhece estilos de kung fu desconhecidos até por Jet Li. E ele tem mais soluções para qualquer problema do que o McGyver usando dois canivetes suíços e um rolo de silver tape. Parafraseando Tina Turner: "Simply The Best"
5) O artista que interpreta qualquer Personagem X tem que ser multifacetado. E, de preferência, nunca ter ganhado um Oscar (afinal, ele é tão cool que nem se importa, o que importa pra ele é a bilheteria). Prêmio que ele tem alguma consideração é o MTV Movie Awards.
Acho que se olhássemos em qualquer dicionário a definição dessa categoria, uma foto estaria presente como o exemplo perfeito. Ele atende pelas alcunhas de "The Man" e "Bad Motherfucker": Samuel L. Jackson. Sem dúvida, ele é um exemplo a ser seguido por qualquer aspirante a ser "cool". Mas não podemos nos esquecer também daquele que fez matar um dia de aula algo magnífico: Ferris Bueller.

Infelizmente, algumas antigas manifestações do "cool" hoje em dia não são bem vistas e estão sendo consideradas até como um sinal de insanidade, como fazer o moon-walking ou dançar de cuecas na sala de estar, ao som de "Old Time Rock’n Roll".
Ser cool não é nenhuma lavagem cerebral. É entender apenas as redes que integram o popular e a elite, o subversivo e o legal. Falando assim até parece muito fácil, mas aí que está o segredo para ser cool, se é que isso é possível.

Fonte: livro "Uma Breve História do Cool" de Renzo Mora.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

O furacão Madonna no Brasil


A espera chegou ao fim. Depois de 15 anos de sua última apresentação no Brasil, a cantora norte-americana Madonna deu início à turnê ”Sticky & Sweet”, na noite deste domingo (14), no país. Mesmo debaixo de chuva, a rainha do pop cantou para 70 mil pessoas no estádio do Maracanã, na Zona Norte do Rio de Janeiro.
Para quem aguardava há meses o show desta noite, a recompensa veio em forma de música, efeitos de luzes e muita dança, coisa que Madonna, aos 50 anos de idade, mostrou que ainda sabe fazer muito bem.
A chuva que caiu sobre a cidade se estendeu durante as duas horas do espetáculo. O público não desanimou. “Essa chuva só veio abençoar essa noite maravilhosa. A Madonna é linda, incrível e uma grande cantora. Esperamos muito por esse dia, não será uma chuvinha que vai acabar com o show”, declarou um fã.
Se a produção impressionou com a megaestrutura montada para o show no Brasil, os fãs, por sua vez, não fizeram feio e investiram no look e nas homenagens. Cartazes, camisetas personalizadas e faixas fizeram parte do “kit de sobrevivência” que os seguidores da rainha do pop montaram para o show no Maracanã.
Os portões do Maracanã só abriram por volta das 17h40. Segundo a polícia, a entrada do público aconteceu de forma tranqüila, sem incidentes. Minutos antes do show, nos bastidores, Madonna recebeu o governador do Rio Sérgio Cabral e a primeira-dama.
Após a performance do DJ Paul Oakenfold, Madonna subiu ao palco com meia-hora de atraso. Ao som de “Candy shop” e “Beat Goes on”, ambas do seu mais recente álbum, a loura abriu a noite às 20h30 vestida com um smoking preto e um maiô que valorizava as suas pernas torneadas.
Os telões espalhados pelo cenário e em cima do palco central potencializaram o espetáculo com videoclipes, homenagens e participações especiais. A primeira delas aconteceu em “Human nature”, com Britney Spears. Em seguida, Madonna pegou carona em um Rolls Royce ao som de “Vogue".
Atlética, elástica e com um corpo de dar inveja a muitas garotas de 20 anos, Madonna usou e abusou da sua vitalidade com o hit “Into the groove”, ao arriscar manobras de pole dance (dança no poste) sobre a mesa do DJ. Mas antes, ela transformou o palco em um grande ringue de boxe ao som de “Die another day”.
Um dos momentos mais polêmicos foi durante “She’s not me”. Madonna fez de tudo um pouco: dançou sensualmente, brincou com um vestido de noiva e até beijou na boca de outras dançarinas. O que ela não contava era com o tombo que levou por causa do palco molhado. Nada que os fãs pudessem se preocupar, já que a musa se levantou em seguida e continuou dançando, como se nada tivesse acontecido.
O momento “balada” ficou por conta de “Devil wouldn’t recognize you”. Foi quando o telão de 360º desceu até o palco revelando a sombra da diva sobre um piano. “Spanish lesson”, na seqüência, iniciou a homenagem de Madonna aos ritmos hispânicos. Um dançarino de flamenco roubou a cena e arrancou gritos das mulheres da platéia.
Roupas coloridas, banjos e pandeiros. O Maracanã abriu as portas para um grande acampamento cigano ao som de “Miles away” e “La isla bonita”. Um grupo de música cigana acompanhou a cantora e fez muita gente arriscar uns passinhos, com direito a tequila e tudo.
O presidente eleito dos Estados Unidos, Barack Obama, foi homenageado durante “Get stupid”, que ressaltou a preservação do planeta. O "tic tac” no final da canção foi a deixa para o sucesso “4 Minutes”. No palco, saem os dançarinos e entram várias projeções do cantor Justin Timberlake, com quem Madonna passa a dividir o palco.
No quesito empolgação, a faixa vitoriosa foi "Like a prayer”, que fez vibrar as estruturas do Maracanã. O público, que já não se preocupava com a chuva que não parava de cair, pulou, cantou e bateu palmas. Emocionada, a diva agradeceu:
“Eu só gostaria de dizer que estou muito feliz em estar de volta depois de 15 anos. Obrigado. Eu amo o Rio”, declarou a loura, que ainda completou com um “Dane-se a chuva”, antes de começar a cantar “Ray of light”. Em seguida, ela pediu para um fã pedir uma música que não estava no repertório. A canção escolhida foi “Express yourself”.
O último e mais empolgado bloco terminou com “Hung up” e “Give it 2 me”. Após duas horas de show, Madonna deixou o palco ovacionada pelo público carioca. O Game Over estampado no telão anunciou o fim do espetáculo. Madonna provou, mais do que nunca, que quem foi rainha nunca perde a majestade.

Fonte: site G1

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Eis a questão...

O nosso espírito faz escolhas que até Deus dúvida
Nossos olhos sempre julgam: consciente e inconscientemente
E esse julgamento só serve pra nós mesmos
Então...Ser ou não ser apenas mais um ser?
Um desmando da nossa alma?
Eis a questão...

Nosso corpo
Acessório de luxo nesses novos tempos modernos
Pode ser vigorexia? Pode ser!
Nudez artística
Nunca tem a menor intenção de constrangir
Arte pela arte, vaidade pela vaidade ou capitalismo pelo capitalismo?

Temos é que ver tudo ao nosso redor com mais alma e menos retina
Conceitos versus tabus
Biologia versus religião
Princípios versus desejos
Fidelidade versus traição
Marginalidade versus santidade
Eis a questão...

A vida sempre está jogando com a gente
Mas nossa alma não nos deixar ter traumas
Basta olhar na palma de nossas mãos
Pode ser quiromancia? Pode ser!
Porque tudo vale a pena
Se o homem for muito mais além que apenas um simples macaco.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Viva o super Obama!!!


Obama é o carisma em pessoa. Barack Obama tem apenas 25 meses de senadoria americana. Ele é “African-American”, palavrinha de difícil tradução, e não negro como nossos negros são negros, destituídos ou não de carisma.
Obama tem carisma, juram todos. Deve ter contribuído para esse estado carismático sua extração, que, até agora, é de enredada narrativa.
Nasceu no Havaí, filho de mãe americana do Kansas e pai economista queniano negro (perdão, americano). Como político, não se sabe direito nada dele, o que quer dizer: não se sabe nada sobre o que fez, nem de positivo e nem de negativo.

Obama, foi eleito o "Homem do ano de 2008" pela revista americana Time. A publicação diz que há dois anos Obama era um mero desconhecido para a metade do país. Ele reuniu 100 mil pessoas num comício em St. Louis, arrecadou mais de US$ 700 milhões em sua campanha e se tornou o responsável por enfrentar a pior crise num primeiro ano de governo no país desde a eleição de Franklin Roosevelt, em 1932.
"Chegou à cena americana como uma trovoada, pôs de pé nossa política, rompeu com décadas de senso comum e superou séculos de uma ordem social hierárquica", diz o texto publicado na edição desta semana da revista.
O presidente que governará os EUA a partir de 20 de janeiro de 2009 "reagiu de uma maneira sem precedentes para formar uma administração que proporcione confiança a um mundo em plena turbulência" após oito anos de George W. Bush na Casa Branca. A revista destaca como qualidades de Obama ser discreto é a "antítese da retórica".
Obama é considerado por outras autoridades em sua eleição, entre elas a ex-candidata a vice-presidente dos EUA Sarah Palin; o secretário do Tesouro americano, Henry Paulson, o presidente da França, Nicolas Sarkozy; e o cineasta chinês Zhang Yimou. No ano passado, o atual premier russo Vladimir Putin ganhou o título. Bush também já foi escolhido o homem do ano.

Não foi coincidência a escolha do dia de hoje para o candidato do Partido Democrata à presidência dos Estados Unidos, Barack Obama, fazer seu discurso de aceitação.
No dia de hoje, em 1963, Martin Luther King fez o seu discurso mais famoso, conhecido como “I Have a Dream” (Eu tenho um sonho), em Washington D.C. O sonho de Martin Luther King era que no futuro negros e brancos pudessem viver como iguais. Hoje, em outro 28 de agosto, 45 anos depois, o afro-americano Obama aceitará a posição de primeiro homem de sua raça a concorrer à presidência dos Estados Unidos.
Mas não é apenas a Martin Luther King que Obama quer fazer alusão. O carismático e mítico presidente dos EUA John Kennedy também serve de exemplo para Obama. Em 1960, JFK fez seu discurso de aceitação à disputa pela Casa Branca em uma arena aberta, mudando a tradição. Hoje, Obama segue os passos de Kennedy e prepara-se para falar para uma multidão, em Denver (EUA).

Se cumprir suas promessas de campanha, Obama tomará as seguintes medidas, depois que se mudar para a Casa Branca, em Washington.
1 - Guantánamo, prisão destinada aos que cometem atos de terrrorismo, será extinta. Obama quer acabar com as torturas sofridas pelos presos.
2 - Os soldados americanos que estão no Afeganistão e Iraque voltarão gradativamente para casa. Obama quer concentrar a força de seu exército no combate aos talibãs e ao grupo terrorista Al Qaeda, liderado por Osam Bin Laden.
3 - Obama reconhece que o Irã pode ser o estopim de uma nova Guerra Mundial, mas está disposto a dialogar com o governo de Mahmud Ahmadineyad.
4 - Obama está propenso também a assinar o protocolo de Kyoto, pelo qual países industrializados e outros integrantes da Organização das Nações Unidas (ONU) se comprometem a reduzir as emissões de carbono.
5 - O novo presidente quer ainda reduzir a dependência de petróleo da Venezuela e Oriente Médio, promovendo novas fontes de enrgia renováveis, destinando para tal cerca de 150 bilhões de dólares.
6 - Obama é simpático à idéia de retomar o diálogo com o primeiro-ministro espanhol José Luís Rodrigues Zapatero, interrompido desde que a Espanha retirou suas tropas do Iraque.
7 - Além de pôr fim à crise frise financeira que abala os Estados Unidos e, em conseqüência, o resto do mundo, Obama se inclina a aprovar tratados de livre comécio, em particular o que favorece à Colômbia.

Enfim...Só nos resta dizer um grande Viva ao super Obama!!!

Fonte: site Reporter.net

" Flora, a vilã que amamos odiar"


Li o artigo do Arnaldo Jabor entitulado: "Flora, a vilã que amamos odiar" . E queria compartilhá-lo com quem virou fã e está apreciando a magistral interpretação da vilã mau caráter folhetinesca vivida pela atriz Patrícia Pillar na novela "A favorita" da Rede Globo.
Segue abaixo o principais trechos da crônica do Jabor:
"A extrema maldade de Flora da novela "A Favorita" nos faz indignados e fascinados. Patrícia Pillar está dando um show, como também Glória Pires fez no passado com Maria de Fátima em "Vale Tudo", que iniciou a leitura da psicopatia brasileira. Antigamente, nos romances e filmes, nos identificávamos com as vítimas; hoje, nos fascinamos com os vilões. Por quê? Bem, porque os psicopatas são o nosso futuro, a vida moderna nos levará a isso.Diante dos cadáveres, da miséria, do cinismo, somos levados a endurecer o coração, endurecer os olhos, a ser cínico em busca de um funcionamento "comercial". Do contrário, seremos descartados, tirados "de linha" como um carro velho.O psicopata light, que não faz picadinho de ninguém, tem as mesmas molas que movem o esquartejador. Tem encanto e inteligência; sem afetividade ou culpa para atrapalhar, tem uma espantosa capacidade de manipulação dos outros, pela mentira, sedução e, se precisar, pela chantagem. Questionado ou flagrado, o psicopata sempre se acha inocente ou "vítima" do mundo, do qual tem de se vingar. Suas ações mais absurdas e cruéis são justificadas como lógicas, naturais, já que o "outro" não existe. Não sente nem remorso nem vergonha do que faz. Ele mente compulsivamente. Não olha para dentro de si simplesmente porque acha que não tem nada a aprender.O psicopata não deprime. Ele atua e pode fazer muito sucesso num mundo onde a alegria falsa e maníaca é obrigatória. Estes tempos de alegria obrigatória são "sopa no mel" para os psicopatas, os chamados psicóticos "sãos" como os nomeiam alguns psicanalistas hoje.Hoje em dia é proibido sofrer. Temos de "funcionar", temos de rir, de gozar, de ser belos, magros, chiques, tesudos, em suma, temos de ser uma mímica dos produtos de "qualidade total".No entanto, a depressão importa. A melancolia é fundamental para a criação e para a felicidade. Estamos erradicando uma força cultural brutal, a musa por trás de muita arte, poesia e música. Estamos aniquilando a melancolia.Sem um desencanto com o sentido da vida, sem um ceticismo crítico, sem a morte no pensamento, ninguém chega a uma reflexão decente. Só com a ajuda da angustia constante este mundo à beira da morte pode ser transformado, reavivado, levado ao novo.No Brasil, com a crise das utopias e com a propaganda estimulando a ridícula liberdade para irrelevâncias, temos o indivíduo absolutamente sozinho. Isso leva a um narcisismo desabrido, base da psicopatia. Queremos ser ricos ou famosos.E esse comportamento está deixando de ser uma exceção. O psicopata é um prenúncio do futuro. A velha luta pela ética, pela paz, pela solidariedade está virando uma batalha vã. Os chamados comportamentos "humanos" estão se esvaindo na distância. O "humano" está virando apenas um lugar-comum para uma "bondadezinha" submissa, politicamente correta.Antes, os psicopatas tocavam num mistério que não queríamos conhecer. Tínhamos medo deles. Hoje, temos de competir com os psicopatas, que em geral nos vencem, com sua eficiência, rapidez e falta de escrúpulos. Estamos vendo que essa antiga doença vai acabar virando uma "virtude" no futuro."
(Arnaldo Jabor)

Tô ouvindo: CD Little Voice da Sara Bareilles


Sara Bareilles (nascida em Humboldt County, California), é cantora, compositora e pianista.
Ela já foi comparada a Fiona Apple, Norah Jones e a Joni Mitchell, sua voz lembra cantoras como Sarah McLachlan e Alicia Keys, isto mesmo sem possuir qualquer tipo de treinamento formal em música. O seu primeiro grande álbum: Little Voice, já vendeu mais de um milhão de discos, além de receber disco de ouro nos Estados Unidos.
"Little Voice" é composto por uma série de canções que falam sobre a sua vida, os seus relacionamentos, a sua "cabeça de vento crônica" e a sua total devoção em tentar compor material honesto e partilhá-lo com meio mundo que se identifique com a sua música.
E é desse adjetivo que ela mesma se intitula " cabeça de vento crônica" que saiu o título do álbum: "Little Voice" é já um sucesso nas tabelas, tendo alcançado já mais de 1 milhão de cópias vendidas.
Agora segue-se por toda a Europa e américa latina com bastante êxito, a prova disso é que: a música "Love Song" encontra-se no 1.º lugar nesses países como um dos temas mais tocados.
Lista de músicas do Cd:

01. Love Song
02. Vegas
03. Bottle It Up
04. One Sweet Love
05. Come Round Soon
06. Morningside
07. Between the Lines
08. Love on the Rocks
09. City
10. Many the Miles
11. Fairytale
12. Gravity