terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Todo mundo quer ser "Cool"

Para muita gente, ser cool é ter uma etiqueta no jeans provando que a calça custou R$ 2 mil. E os comerciais de TV podem mesmo dar a impressão de que, para merecer a qualificação, tudo o que é preciso é estar antenado com a moda e ter uma aparência bacana. Ser cool não é um produto que pode ser comprado. É uma atitude de rebeldia e, por isso mesmo, o importante é escapar de tudo aquilo que é vendido pela mídia como descolado.
Ou você é cool ou não é. Observe as atitudes de ícones da música e do cinema de várias épocas, como: Miles Davis, Marlon Brando, Humphrey Bogart, Cary Grant, Janis Joplin, Orlando Bloom, Wagner Moura, Paulo César Pereio, Scarlett Johansson, Ladyhawke, M.I.A, Liam Gallagher, Carl Barat, Damon Albarn, Johnny Marr e conclua que todos tem em comum, o que os une todos esses é um completo descaso com o que pensa a sociedade. Em resumo, ser cool é saber dizer: dane-se, inclusive para si mesmo.
O cool nasceu no gueto, como uma resposta à discriminação social. Era a forma de expressão daqueles que não encontravam espaço no mundinho branco e protestante que controlava a sociedade americana. Foram os negros que ouviam o jazz, os mafiosos italianos que forjaram a atitude cool. Como essas pessoas não suportavam as injustiças que sofriam, decidiram desdenhar as instituições - em vez de bater de frente com elas. O cool não está preocupado em mobilizar as pessoas para mudar a sociedade: ele prefere ficar de longe, ironizando todos os protocolos sociais porque sabe que fazer barulho costuma não resolver nada.
Também não adianta fazer barulho para mostrar o quanto você é cool. É como ser poeta. Ninguém pode se autoproclamar. As pessoas é que devem considerá-lo como tal.
Por isso, quem se acha cool, na verdade, está mais distante de sê-lo. Alguns dos que quiseram construir essa imagem se deram mal. Foi o caso do ator Colin Farrell, que deixou que seus bajuladores vazassem que ele cheirava muita cocaína e bebia litros de uísque. A imprensa americana percebendo a jogada de marketing, escreveu que era preciso o dobro das substâncias que ele dizia usar para conseguir assistir a qualquer filme dele.
O cool, como é algo natural, não precisa de holofotes para se afirmar. Mick Jagger, vocalista dos Rolling Stones, ditou os preceitos do cool nos anos de 1960, mas o sucesso lhe subiu à cabeça. De descolado, o músico virou um mala. Sua postura de estrelinha deixou claro que o verdadeiro cool da banda era Charles Watts. O baterista ganha a vida com rock, mas gosta mesmo é de jazz. Ele não se impressiona por sua banda ser considerada a maior do planeta. Na década de 1980, quando o grupo estava fora de sintonia e o ego de Mick Jagger conseguia superar a quantidade de drogas que ele consumia, o vocalista ligou, bêbado, perguntando onde estava o baterista de sua banda. Do outro lado da linha, Watts desligou o telefone com calma, tomou um banho, vestiu um terno e foi ao quarto de Jagger. A resposta para o estrelismo do vocalista, de tratar o conjunto como se fosse seu, foi um soco na cara. Sem perder a pose, saiu do quarto, voltou para a cama e dormiu.
Elvis Presley é um outro exemplo de como ser cool. Ele surgiu chocando as velhinhas com seu remelexo pélvico, o que não era tanta novidade já que os negros do jazz se chacoalhavam desde a década de 1930. Quando lançou moda, Elvis era o bonitão que vestia o estereótipo de selvagem. O cinema adorou e ele virou rei. Ele tinha sua majestade, mas só se tornou realmente cool nos anos de 1970. Com uma pança proporcional às costeletas, vestido com macacões de franjas e bocas-de-sino gigantescas, ele dava desengonçados golpes de caratê em seus shows. Cantava músicas melosas, flertava com o country e era o ídolo das coroas. E continuava sendo bom. Era tão cool que até hoje tem gente procurando por ele, dizendo que não morreu.
Se pudéssemos estabelecer uma base das cinco principais características que fariam de um personagem de cinema ou um artista "cool" seria m as seguintes:

1) O Personagem X deve ser completamente irresistível às outras pessoas, tanto do sexo oposto ou não. Há trinta anos ameaçando qualquer um apenas com o dedo indicador.
2) Não só de frases se compõe o "cool". Se isso fosse verdade, todo o filme de David Mamet seria encaixado nessa categoria. O personagem deve saber como pronunciar aquela frase, incluindo a entonação, o senso de humor e o olhar. Às vezes, somente o olhar é necessário. E além disso, o Personagem X deve ter um bordão ou um gesto que sempre o caracterize. Talvez o jeito de andar, ou o jeito de levantar o dedo ao ameaçar alguém, o personagem sempre será reconhecido por isso.
3) Infelizmente, o visual faz o Personagem X. Algumas vezes, é apenas um chapéu fedora, chicote e jaqueta surrada, um conjunto de terno e gravata preta e camisa branca com um grande penteado afro, ou até mesmo uma armadura que cubra totalmente o artista. O visual é parte fundamental da procura pela essência do "cool".
4) Não há ninguém mais esperto do que o nosso personagem X. Ele conhece as músicas mais obscuras do planeta e conhece estilos de kung fu desconhecidos até por Jet Li. E ele tem mais soluções para qualquer problema do que o McGyver usando dois canivetes suíços e um rolo de silver tape. Parafraseando Tina Turner: "Simply The Best"
5) O artista que interpreta qualquer Personagem X tem que ser multifacetado. E, de preferência, nunca ter ganhado um Oscar (afinal, ele é tão cool que nem se importa, o que importa pra ele é a bilheteria). Prêmio que ele tem alguma consideração é o MTV Movie Awards.
Acho que se olhássemos em qualquer dicionário a definição dessa categoria, uma foto estaria presente como o exemplo perfeito. Ele atende pelas alcunhas de "The Man" e "Bad Motherfucker": Samuel L. Jackson. Sem dúvida, ele é um exemplo a ser seguido por qualquer aspirante a ser "cool". Mas não podemos nos esquecer também daquele que fez matar um dia de aula algo magnífico: Ferris Bueller.

Infelizmente, algumas antigas manifestações do "cool" hoje em dia não são bem vistas e estão sendo consideradas até como um sinal de insanidade, como fazer o moon-walking ou dançar de cuecas na sala de estar, ao som de "Old Time Rock’n Roll".
Ser cool não é nenhuma lavagem cerebral. É entender apenas as redes que integram o popular e a elite, o subversivo e o legal. Falando assim até parece muito fácil, mas aí que está o segredo para ser cool, se é que isso é possível.

Fonte: livro "Uma Breve História do Cool" de Renzo Mora.

Um comentário:

  1. Grande Pensador:
    Você sacou tudo.
    Que bom que vc leu o livro.
    Abraços
    Renzo Mora
    www.renzomora.wordpress.com

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