sábado, 6 de fevereiro de 2010

O poder feminino atrás das câmeras


Em mais de oito décadas de Oscar, apenas três mulheres foram indicadas ao prêmio de melhor direção: Lina Wertmüller por Pasqualino Sete Belezas (1975), Jane Campion por O Piano (1993), e Sofia Coppola por Encontros e Desencontros(2003). Nenhuma delas venceu, embora Jane e Sofia tenham levado a estatueta de melhor roteiro original por seus respectivos filmes. Em 2010, essa história de exclusão pode ter um novo e histórico capítulo.
A californiana Kathryn Bigelow, aos 58 anos, tem chances concretas de ser a primeira cineasta a vencer o prêmio. Levou muitos dos principais prêmios da crítica, unânime ao festejar o vigor e a originalidade com que conduziu o seu excepcional drama bélico Guerra ao Terror, que retrata o dia a dia de um esquadrão encarregado de desarmar bombas na ocupação norte-americana do Iraque.
Longe de ser uma patriotada, o longa tem a audácia de ao mesmo tempo que pode ser visto como um eletrizante filme de guerra, também dissecar a dor física e psicológica a que todos, soldados e a população do país, são submetidos, que nos final das contas ninguém sai ganhando.
Muitos críticos vem elogiando o trabalho de Kathryn, sobretudo por ter se aventurado em um gênero cinematográfico masculino por excelência. Já comparado a clássicos como Apocalipse Now (1979) de Francis Ford Coppola e Nascido para Matar (1987) de Stanley Kubrick, te¬¬ria como trunfo, além de contar uma grande história de forma original, mergulhar fundo na subjetividade dos personagens, que por sinal são todos homens.
Quem acompanha a filmografia da diretora, que inclui filmes como Caçadores de Aventuras (1991) e Estranhos Prazeres (1995), sabe que essa preferência por gêneros teoricamente pouco femininos não se trata de uma novidade.
Mas Kathryn não é a única mulher a fazer sucesso por trás das câmeras nesta temporada de prêmios. A dinamarquesa Lone Scherfig, mulher de vanguarda, que foi pioneira ao dirigir com os conceitos radicais do movimento Dogma 95 e fez a simpática comédia Italiano para Principiantes, de 2000, que lhe valeu um Urso de Prata em Berlim. Tem seu mais recente trabalho intitulado Educação, que foi um sucesso de crítica, é ambientado nos anos 60, antes dos Beatles e dos Rolling Stones e está entre os dez cadidatos ao Oscar de melhor filme.
Educação, ao contrário de Guerra ao Terror, tem como personagem central uma mulher e mostra a transição da jovem Jenny, vivida pela atriz Carey Mulligan, forte candidata ao Oscar de melhor atriz, que vai da adolescência à idade adulta, na Grã-Bretanha do início dos anos 60, na passagem do período ultra-rígido que se seguiu à Segunda Guerra Mundial para os tempos liberais que viriam a seguir, com a contracultura e a revolução sexual.
Tem o lírico Brilho de uma Paixão, que merece ser visto, da talentosa diretora Jane Campion, que injustamente só foi indicado a uma só categoria do Oscar, de melhor figurino feito por Janet Patterson, se passa no século XIX e conta a história do romance do poeta John Keats e Fanny Brawne, tem as maiores chances, principalmente, porque a academia adora um figurino de época, e deve levar uma estatueta para casa.
A diretora Nora Ephron, que é conhecida por cenas inesquecíveis como aquela do filme Harry e Sally de 1989, na qual a moça simula um orgasmo, sem economizar gemidos e gritos, em pleno restaurante, para provar que as mulheres sabem fingir muito bem. Dessa vez Norah Ephron também escolheu como tema comida e sexo, o amor e suas delícias e amargores. Julie e Julia filme é baseado em histórias reais contadas nos livros Julie e Julia de Julie Powell e Minha vida na França de Julia Child. Nora assina o argumento e a realização dessa comédia cheia de charme que sabe ocupar o seu lugar como película despretensiosa e aproveitar, de forma excepcional, o extraordinário talento de Meryl Streep, bem acompanhada por Amy Adams e Stanley Tucci. E que deu à 16 indicação à Meryl Streep, em 30 anos de carreira, ao prêmio de melhor atriz, com essa sua aclamada atuação.
Este é um filme sobre duas mulheres e as suas histórias e pouco mais. Tal não é necessariamente negativo, bem pelo contrário. Numa altura em que os filmes femininos de Hollywood pautam pela rotineira exploração dos conflitos entre sexos, Julie e Julia surge como um saudável desvio do marasmo. É uma estória e uma história que aqui se contam, salpicada por momentos de grande comicidade que, apesar de tudo, não deixam de dever muito às excelentes interpretações, reveladoras de um excelente trabalho de casting. De fato e de um ponto de vista técnico e prático, Julie e Julia, transpira qualidade, sobretudo na caracterização de Paris dos anos 50, a arquitetura, o guarda-roupa, a intriga política e já agora, do magnífico aspecto da comida que vai aparecendo. Desaconselha-se a ida ao cinema de barriga vazia, portanto, dado o potencial salivante de alguns planos.
Sem esquecer e para finalizar com o nosso cinema latino-americano que também está sendo feito por mulheres em uma ótima fase. No Brasil há um número substancial de diretoras em atividade, como Laís Bodanszky de O bico de sete cabeças e Tata Amaral de Um céu de estrelas. Da Argentina, Lucrecia Martel, de O pântano e A mulher sem cabeça, já é um nome consolidado e uma referência internacional. Mas veio do Peru o melhor longa-metragem produzido no continente em 2009: o brilhante e poético A teta assustada, de Claudia Llosa, vencedor do Urso de Ouro no Festival de Berlim que está entre os cinco candidatos ao Oscar de melhor filme estrangeiro deste ano.

Fonte: Webcine

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