quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Ela é simplesmente a minha Clarice

Não se preocupe em entender Clarice, apenas a deixe fluir
E ela te invade como uma leve brisa ou como uma forte ventania
Uma força que vem da sua solidão e da sua ânsia constante de tentar acertar
Caleidoscopicamente ela é mutante, fascinante, dilacerante, inconstante
Caleidoscopiamente ela é apenas Clarice
Sempre buscando uma liberdade que sempre é pouca, muito pouca.

Criando sua própria verdade, reinventando sua própria maneira de existir
Num estilo ímpar dentro de um mundo de ficção clariceana
Personagem dela mesma numa estrutura sintática caótica
Uma Virgínia Woolf, uma psicóloga das letras, uma estrangeira misteriosa
Uma mulher de várias caras, mas de um só coração selvagem
Selvagem no seu jeito de escrever, de escrever irreproduzível.

A última das Clarices, a primeira das flores de nome Lispector
Vinda de uma natureza inteligente, densa, sensível, sem igual
A mulher que nunca descansa, a mulher que nunca desisti
Uma Macabéia para não se esquecer jamais
Ela é um enigma, um sopro de vida, uma bela fera, um quase tudo
Ela é simplesmente a minha Clarice.

Uma densa personalidade para apenas uma menina com seus livros
Num jogo impulsivo de se tornar adulta sem ser madura
Maturidade que lhe trazia uma lucidez vazia, um inferno humano
Que resumia a vida apenas em um inspirar e um expirar
Num monólogo interior que a levava sempre ao infinito de si mesma
Infinito do inconsciente, do inalcançável, do que não se entende.

Entender não é o bastante, se queremos ultrapassar qualquer explicação
Mas nem tudo está perdido se dermos amor e recebermos amor
É assim que todo mundo aprende a viver de verdade
Mantendo-nos fortes, humanos e felizes muito mais do que somos
Assim nos transformamos lentamente no que ela escrevia
Assim vamos viver a vida até a sua última gota.

Sentir a sensação de achar nossa essência, um sentimento de iluminação
Sentir o sabor de cada letra de Clarice a nos devorar, a nos falar
Não contando apenas histórias, mas nos mostrando a vida
Tornando-nos personagens dialogando com sua epifania inquieta de criação
Mostrando-nos o indizível através das pulsações de sua escrita
Feito uma navalha amolada, rasgando todos os nossos véus do mundo real.

(Codinome Pensador)

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