quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Tô ouvindo: CD Cavaleiro selvagem aqui te sigo da Mariana Aydar


A cantora paulistana Mariana Aydar é certamente um dos principais talentos da nova safra da música brasileira, mesmo que ela prefira afastar-se desse rótulo. Seu mais recente trabalho o CD intitulado Cavaleiro Selvagem Aqui te Sigo, é o terceiro de sua carreira, mostra Mariana como uma cantora em constante evolução. Sinto que existe nela uma espécie de fuga da mesmice trazida por diversas cantoras brasileiras, que preferem se infiltrar somente no samba ou mesmo trazer algum ar de pseudomodernidade a MPB. Neste CD há espaço para diversos estilos, desde rock até forró, com direto à participação especial de Dominguinhos na doce Preciso do teu sorriso. Até mesmo por esta razão, seja difícil rotular o estilo de Mariana neste universo musical.
Algo que chamou atenção no CD, foram geniais e descolados arranjos de percussão e metais durante todas as músicas, que foi gravado praticamente ao vivo no Na Cena Studios, em São Paulo, com alguns adicionais no estúdio próprio da cantora, o Casa de Kavita.
Algumas das músicas de Cavaleiro Selvagem chegaram a ser apresentadas ao público em diversos shows da cantora, que serviram como uma espécie de laboratório para aprovação ou não do público. Foi o caso da excelente versão de Nine Out of Ten, de Caetano Veloso, considerado o primeiro reggae brasileiro, gravada no antológico disco Transa, de 1972 e de Porto (Porto, é Lisboa ou Salvador/Lindo, é cidade ou é amor), composição de Romulo Fróes e Nuno Ramos. Excelentes também estão as versões de Galope Rasante, do cantor e compositor paraibano Zé Ramalho, que sem a voz cavernosa de Zé Ramalho, fica uma leitura bem particular na voz da cantora e de Vai vadiar (Alcino Corrêa e Monarco), conhecido samba na voz de Zeca Pagodinho, e que no disco ganha um novo arranjo, quase um tango por conta da sanfona de Guilherme Ribeiro. No entanto, o grande achado mesmo é Preciso do teu sorriso, forró do Trio Virgulino que ganha uma balanço gostoso com a sanfona parisiense do mestre Dominguinhos.
Mariana Aydar, ou melhor Kavita (seu codinome), apresenta algumas composições próprias como Solitude, composta durante um retiro espiritual, Floresta, Cavaleiro Selvagem e Vinheta da Alegria.
Para se ter uma idéia, uma das faixas mais contagiantes é O homem da perna de pau, a guitarrada paraense candidata a hit das pistas mais antenadas.
Mas a grande afirmação artística de Mariana está na música Passionais, segue a inspiração da cantora de encontrar grandes músicas para engrandecê-las um pouco mais. Grande composição, grande letra, grande interpretação da cantora. “Escrevi essa letra porque sou passional em tudo na vida”. Diz ela.
A banda Los Caballeros acompanha a cantora em todas as faixas: Robinho nos baixos, Guilherme Held nas guitarras (de 6 e 12 cordas), Gustavo de Dalva na percussão e efeitos, Guilherme Ribeiro nos teclados (Rhodes, Hammond, piano acústico e sintetizadores) e Duani Martins, o segundo produtor deste álbum e também dois anteriores Kavita 1 de 2006 e Peixes, Pássaros, Pessoas (2000), na bateria. Letieres Leite toca flauta, pífano e caxixi.
É nítido que Mariana procurou investir em seu lado compositora. E se deu bem em canções que são enriquecidas por trompas e trombones sinfônicos, percussões suaves e bem colocadas, linha de baixo envolvente e guitarra etérea. Quase um trip hop genuinamente brasileiro.
“O cavaleiro passa, perpassa, atravessa o álbum da faixa de abertura aos galopes finais da última canção, como se todas as coisas não acabassem, mas se renovassem constantemente voltando às suas origens.A idéia se conecta com o conceito de fundamento das coisas da ancestralidade, tão ligado aos padrões percussivos afrobaianos, que dão um espírito particularmente forte ao disco”. Diz a cantora.
“A Saga do Cavaleiro é sugerir e guiar, passar e inspirar. Criei meu CD mais artesanal, cheio de mistérios, afromântrico. Não tem manual, não é uma homenagem a tradições, cada um de nós tem seu próprio Cavaleiro Selvagem. É uma busca a algo maior pela música, pela expressão, pela soma. O caminho é pessoal a cada participante e ouvinte e se é universal é pelo ímpeto artístico. O coração sente e derrama vida. E fim”. Refletiu Mariana.
A cantora consegue percorrer pelos mais diversos estilos e com uma moldura musical mais apurada, Mariana mostra ter firmeza e conhecimento sobre o que está fazendo e os faz ter uma projeção de que vem muita coisa boa pela frente em seus próximos trabalhos. Confirmando a tendência da nova geração em querer se mostrar eclética, Mariana Aydar ganha pontos por fazer isso de forma autêntica e realmente eclética.

Fonte: Misturebapop.

Um comentário:

  1. demais esse CD!
    Parabens pela resenha, Mariana Aydar merece todos os aplausos do mundo.

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