terça-feira, 14 de julho de 2009

Fugindo do óbvio

Falar do óbvio não é fácil, pelo contrário, o óbvio é traidor principalmente quando sabemos que ele é óbvio e não sabemos explicá-lo e falar sobre ele.
Constatei escrevendo meus textos e minhas poesias, o medo do óbvio ou do clichê ronda o imaginário de nossas mentes.
Engraçado afirmar isso, pois todo escritor ou blogueiro de plantão que se preze tenta fugir desse senhor óbvio, mas sempre acabamos caindo num problema comum do nosso mundo pós-moderno, a idéia de que todos os temas já foram trabalhados. Por maior que seja a quantidade de assunto ou de reflexão que contemporaneidade consegue fornecer, passamos sim por uma limitação de temas que podem criar boas reflexões humanas.
Não há limitação de formas de apresentação, porém se alguém quiser criar um texto sobre as relações entre duas pessoas, ele vai passar pela sensação de aquilo já ter sido escrito. Tem uns meses que reli rapidamente "Olhai os lírios do campo" do Veríssimo. A relação de mediocridade de um menino pobre, que consegue vencer na vida após ter se unido a ricos e se vendido para os valores deles. Quem não leu algo que seja parecido? Não vou negar, com a perspicácia de Érico Veríssimo não, pois seu texto se dota de sutilezas de percepção própria do personagem, algo que é característico de autores ingleses.
Para fugir do óbvio cheguei a conclusão que é preciso três coisas: tato, criatividade e sempre procurar um novo ângulo da questão. Acho que afastar-se excessivamente, para não repetir o que já está dito, é um modo bem instigante, tentar reescrever e subverter, estimula na criação de qualquer texto ou poesia, isso é inspirador pra mim, mas não esquecer jamais de que a diferença entre o veneno e o remédio é a dosagem.
Tem um poema do Vinícius de Moraes, que não lembro agora o nome, que fala que para fugir do óbvio devemos olhar além de tudo, atravessar a matéria, até porque analisando bem, as mais belas descobertas do nosso cotidiano, às vezes, tão maçante, ocorrem quando as mesmas coisas são vistas com um novo olhar, isso que dar um novo sopro, um novo frescor.
De onde veio a palavra "óbvio". É óbvio que fui procurar e descobri que nasceu lá na antigüidade, do vocábulo latino via (caminho). "Obviam" significava então algo que está "no caminho". Segundo os dicionários atuais, a gente pode atestar que óbvio é aquilo que é claro, manifesto, que salta à vista.
Não é difícil não ser óbvio, até porque na base da comunicação humana não existem coisas óbvias. Afinal cada pessoa interpreta um signo á sua maneira, de acordo com o seu repertório pessoal, suas vivências e até seu estado de espírito. Nada está mais fora do nosso controle do que a interpretação daquilo que nós dizemos, fazemos ou parecemos. A única coisa mesmo mais óbvia e que não podemos fugir nessa nossa existência é da morte. E que ela nunca seja tão breve e nem tão óbvia para nós.

(Codinome Pensador)

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