sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Nossos ídolos não são mais os mesmos, mas ainda respiram.


Ainda está na sua estante aquele disco que mudou sua vida. Aquele que você comprou na adolescência, com sua mesada, quando começava a descobrir as coisas e as bandas. Aquele disco que fez você querer ser músico.
Você comprou numa loja do lado da sua casa, de um vendedor amigo, um cara que começou a te recomendar outras coisas, que achava que sabia o que você queria. Você ouvia a todo volume, porque falava sobre você e você queria que o mundo todo ouvisse. Era a sua voz. Na ordem das músicas, na arte do encarte, nas letras e melodias formava aquilo que você reconheceria pelo resto da vida como sua personalidade.
Daí você se tornou um artista.
Começou estudando música, guitarra, piano, canto. Teve suas primeiras bandinhas. Tocava na garagem, pagava um estúdio, fez seus primeiros shows em inferninhos, daí mudou de banda, daí começou tudo de novo.
Agora você está no ponto.
Agora você começa a gravar seu disco.
Agora você tem repertório, tem um álbum coeso, tem uma capa que, quem sabe, poderia estar no quarto de um novo adolescente, na estante ou na parede, mudar novas vidas, influenciar vendedores...Mas não. Não há mais lojas de discos, há apenas grandes redes. Não há mais arte nem encarte, as pessoas baixam direto faixas isoladas. Escutam 10 segundos da introdução, então se adiantam para ouvir os vocais.
Sua arte está condenada.
Não que eu queira ser nostálgico ou conservador... Mas estava pensando em como deve ser triste para músicos e bandas que estão começando agora que tiveram seus disquinhos favoritos lidarem agora com a imaterialidade da música, o fim dos lados B, a urgência dos singles e dos hits, apenas hits, sem mais espaço para as músicas de passagem...Ou não, né? Há também o outro lado. Há o novo espaço da Internet, blogs, myspace, download. Você pode conquistar seu público e seus fãs sem precisar de grandes espaços. Você pode conquistar o mundo trancado em casa, e você pode ter seus ídolos exclusivos.
Como diria Annie Lennox: “I knew that I was going to be a legend... in my living room”.
Então poderia ser mais triste: você poderia ser escritor.
Quem quer ser um jovem autor?Porque assim, você pode ser até lido, você até pode ter seu público, pode até vender razoavelmente bem, ou ser um ídolo para poucos, publicado apenas em blog, vendendo seu próprio livro, mas você nunca terá um ídolo.
Eu nunca tive.
Sério.
Digo, em quem posso me espelhar, qual será meu modelo? A gente não quer ser igual aos escritores que admira – ao menos, não quer ter a mesma vida. Posso louvar o trabalho deles, mas não quero terminar como Caio Fernando Abreu, Lúcio Cardoso, João do Rio... Isso sem mencionar os vivos...O escritor no Brasil não tem modelos positivos. Ele pode seguir a arte, pode admirar o estilo, pode querer ser tão grande quanto... Mas sabe que assim só conquistará um final trágico.
Será que eu ainda acredito? Só resta acreditar que, com a gente, poderá ser diferente. Mas, sinceramente, não é isso que o mundo mostra. Posso me consolar pensando: “Ao menos um moleque pode me descobrir daqui a 50 anos, como eu descobri o Lúcio Cardoso...” Mas acho que cada vez menos gente descobrirá livros..E... será que o mundo ainda existirá daqui a cinquenta anos?
O músico sobrevive com shows. O escritor sobrevive com textos para jornal, traduções, roteiros. Mas talvez a arte, como a conhecemos, já esteja com os dinossauros, já esteja com os dias contados, já esteja no alvo do meteoro.

(Santiago Nazarian)

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