
Ou você é cool ou não é. Observe as atitudes de ícones da música e do cinema de várias épocas, como: Miles Davis, Marlon Brando, Humphrey Bogart, Cary Grant, Janis Joplin, Orlando Bloom, Wagner Moura, Paulo César Pereio, Scarlett Johansson, Ladyhawke, M.I.A, Liam Gallagher, Carl Barat, Damon Albarn, Johnny Marr e conclua que todos tem em comum, o que os une todos esses é um completo descaso com o que pensa a sociedade. Em resumo, ser cool é saber dizer: dane-se, inclusive para si mesmo.
O cool nasceu no gueto, como uma resposta à discriminação social. Era a forma de expressão daqueles que não encontravam espaço no mundinho branco e protestante que controlava a sociedade americana. Foram os negros que ouviam o jazz, os mafiosos italianos que forjaram a atitude cool. Como essas pessoas não suportavam as injustiças que sofriam, decidiram desdenhar as instituições - em vez de bater de frente com elas. O cool não está preocupado em mobilizar as pessoas para mudar a sociedade: ele prefere ficar de longe, ironizando todos os protocolos sociais porque sabe que fazer barulho costuma não resolver nada.
Também não adianta fazer barulho para mostrar o quanto você é cool. É como ser poeta. Ninguém pode se autoproclamar. As pessoas é que devem considerá-lo como tal.
Por isso, quem se acha cool, na verdade, está mais distante de sê-lo. Alguns dos que quiseram construir essa imagem se deram mal. Foi o caso do ator Colin Farrell, que deixou que seus bajuladores vazassem que ele cheirava muita cocaína e bebia litros de uísque. A imprensa americana percebendo a jogada de marketing, escreveu que era preciso o dobro das substâncias que ele dizia usar para conseguir assistir a qualquer filme dele.
O cool, como é algo natural, não precisa de holofotes para se afirmar. Mick Jagger, vocalista dos Rolling Stones, ditou os preceitos do cool nos anos de 1960, mas o sucesso lhe subiu à cabeça. De descolado, o músico virou um mala. Sua postura de estrelinha deixou claro que o verdadeiro cool da banda era Charles Watts. O baterista ganha a vida com rock, mas gosta mesmo é de jazz. Ele não se impressiona por sua banda ser considerada a maior do planeta. Na década de 1980, quando o grupo estava fora de sintonia e o ego de Mick Jagger conseguia superar a quantidade de drogas que ele consumia, o vocalista ligou, bêbado, perguntando onde estava o baterista de sua banda. Do outro lado da linha, Watts desligou o telefone com calma, tomou um banho, vestiu um terno e foi ao quarto de Jagger. A resposta para o estrelismo do vocalista, de tratar o conjunto como se fosse seu, foi um soco na cara. Sem perder a pose, saiu do quarto, voltou para a cama e dormiu.
Elvis Presley é um outro exemplo de como ser cool. Ele surgiu chocando as velhinhas com seu remelexo pélvico, o que não era tanta novidade já que os negros do jazz se chacoalhavam desde a década de 1930. Quando lançou moda, Elvis era o bonitão que vestia o estereótipo de selvagem. O cinema adorou e ele virou rei. Ele tinha sua majestade, mas só se tornou realmente cool nos anos de 1970. Com uma pança proporcional às costeletas, vestido com macacões de franjas e bocas-de-sino gigantescas, ele dava desengonçados golpes de caratê em seus shows. Cantava músicas melosas, flertava com o country e era o ídolo das coroas. E continuava sendo bom. Era tão cool que até hoje tem gente procurando por ele, dizendo que não morreu.
1) O Personagem X deve ser completamente irresistível às outras pessoas, tanto do sexo oposto ou não. Há trinta anos ameaçando qualquer um apenas com o dedo indicador.
2) Não só de frases se compõe o "cool". Se isso fosse verdade, todo o filme de David Mamet seria encaixado nessa categoria. O personagem deve saber como pronunciar aquela frase, incluindo a entonação, o senso de humor e o olhar. Às vezes, somente o olhar é necessário. E além disso, o Personagem X deve ter um bordão ou um gesto que sempre o caracterize. Talvez o jeito de andar, ou o jeito de levantar o dedo ao ameaçar alguém, o personagem sempre será reconhecido por isso.
3) Infelizmente, o visual faz o Personagem X. Algumas vezes, é apenas um chapéu fedora, chicote e jaqueta surrada, um conjunto de terno e gravata preta e camisa branca com um grande penteado afro, ou até mesmo uma armadura que cubra totalmente o artista. O visual é parte fundamental da procura pela essência do "cool".
4) Não há ninguém mais esperto do que o nosso personagem X. Ele conhece as músicas mais obscuras do planeta e conhece estilos de kung fu desconhecidos até por Jet Li. E ele tem mais soluções para qualquer problema do que o McGyver usando dois canivetes suíços e um rolo de silver tape. Parafraseando Tina Turner: "Simply The Best"
5) O artista que interpreta qualquer Personagem X tem que ser multifacetado. E, de preferência, nunca ter ganhado um Oscar (afinal, ele é tão cool que nem se importa, o que importa pra ele é a bilheteria). Prêmio que ele tem alguma consideração é o MTV Movie Awards.
Acho que se olhássemos em qualquer dicionário a definição dessa categoria, uma foto estaria presente como o exemplo perfeito. Ele atende pelas alcunhas de "The Man" e "Bad Motherfucker": Samuel L. Jackson. Sem dúvida, ele é um exemplo a ser seguido por qualquer aspirante a ser "cool". Mas não podemos nos esquecer também daquele que fez matar um dia de aula algo magnífico: Ferris Bueller.
Infelizmente, algumas antigas manifestações do "cool" hoje em dia não são bem vistas e estão sendo consideradas até como um sinal de insanidade, como fazer o moon-walking ou dançar de cuecas na sala de estar, ao som de "Old Time Rock’n Roll".
Ser cool não é nenhuma lavagem cerebral. É entender apenas as redes que integram o popular e a elite, o subversivo e o legal. Falando assim até parece muito fácil, mas aí que está o segredo para ser cool, se é que isso é possível.
Fonte: livro "Uma Breve História do Cool" de Renzo Mora.